segunda-feira, 25 de maio de 2009











Esfinge

o amor
não é apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome
é que a pele do teu nome
consome a flor da minha pele

cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge
clarisse/beatriz

assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nosso profanos segredos
se um dia falta coragem
a noite sobra do medo

na sombra da tatuagem
sinal enfim permanente
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente

o nome tem seus mistérios
que se esconde sob panos
o sol é claro quando não chove
o sal é bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve

o mar que vai e vem
não tem volta
o amor é a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca é a porta
onde o poema não tem fim



Gomes & Gumes

todo poema tem dois gomes
toda faca tem dois gumes
de um eu não digo os nomes
da outra não mostro os lumes
se um corta com palavras
a outra com corte mesmo
se um é produto da fala
a outra do ódio a esmo

todo poema tem dois gomes
toda faca tem dois gumes
e um amor cego nas asas
brilhante de vagalumes
se em um a linguagem é sacana
na outra o corte é estrume
todo poema tem dois gomes
toda faca tem dois gumes

se em um peixe é palavra
na outra o brilho é cardume
é fio estrela na lavra
mal cheiro vício costume
de um eu não digo os nomes
da outra não mostro os lumes

se em um a coisa é sagrada
ofício provindo das vísceras
na outra a fé é lacrada
hóstia servida nas missas
se em um é cebola cortada
aroma palavra carniça
na outra o ferro é tempero
fé cega – fome amolada
poema é só desespero



Memorial das Laranjeiras

o livro e tua pele de sombras
atravessa o túnel do tempo
com a tua carcaça sem alma

vejo teus olhos acesos
e sonho o nome do que vejo
verlaine talvez nos seguisse
parasse o trem no momento

santa úrsula e santa bárbara
dormem dentro da pedra
ao lado do palácio
bem perto do perigo

passeiam por trás das memórias

oxossi que nos proteja
por estes ossos de fedra
em cada prece que eu reze
para encantar as serpentes
para esquecer o que seja
na tua boca sem beijo

através de e-mails postados
no livro nosso infinito
do antes agora depois



Metade
para ferreira gullar


nordeste a parte
que me deste
não cabe em mim
de tão profunda

algaravia

rústica palavra
vanguarda e poesia
luta corporal
noite veloz
poema sujo

muitas vozes
barulhos
vertigem do meio dia
neo conreto
su real
formigueiro imaginário
implosão
girassol em mar azul

morte na flora
bananas podres na feira
do maranhão ao caos do rio

poema enterrado sub mundo
a flor o nojo
do cimento
ao jasmim

afiando a carNAvalha
para Eliakin Rufino


roberta agora só se for cainelli
bruna só se for polleto
tecido tem que ser a própria pele
que encobre a nudez do esqueleto


o beijo só se for ao vivo
e-mail só se for inteiro
decência no legislativo
carnaval:
a gente brinca em fevereiro


cocada agorasó se for de coco
paçoca de amendoim
cigarro só se for de palha
cacique só se for da mata
linguagem só tupiniquim


bala só se for de prata
água só se aguardente
tônica só se for com gin
estado só se for de surto
eleição só se for sem furto
brilho só no camarim


golaço só se for de letra
ronaldo só se for werneck
malandro só se mandarim
política só se for decente
partido só sem presidente
governo eu que mando em mim


batismo só se for de pia
congresso só de poesia
reinaldo pode ser valinho
inda melhor se for jardim



Artur Gomes








Nenhum comentário:

Postar um comentário