segunda-feira, 22 de junho de 2009










In versos

A gente inventa tudo
Mas de repente
A coisa se inverte
E tudo se inventa.
Fico vesga no engenho de idéias
Eu dentro dele
Ele dentro de mim
Os sentimentos são as portas
O meu corpo só a casca
Tudo entra e tudo sai
O que mata me nasce
Como o que nasce me mata
Fico miúda para ver o alto
Lá de cima avisto o espaço
Se quero ver o plano
Fico gigante para
olhar pra baixo

Dani Morreale

engenho 484
para Jiddu Saldanha

arrancar do gesto a palavra chave
da palavra a imagem xis
tudo por um risco
tudo por um triz

o trem bala
cospe esqueletos
no depósito da central
fuzil pode ser nosso brinquedo

- novo enredo - para
o próximo carnaval.

Artur Gomes

Morreale
para Danielle Morreale

Dani-se
se ela me pisar nos calos
me cumer o fígado
me botar de quatro
assim como cavalo
galopar meus pêlos
devorar as vértebras

Dani-se
se ela me vier de unhas
me lascar os dentes
até sangrar meu sexo
me enfiar a faca
apunhalar meus olhos
perfurar meus dedos

Dani-se
se o amor for bruto
até mesmo sádico
neste instante lírico
se comédia ou trágico
quero estar no ato
e Dani-se o fato
deste sangue quente
nas veias dos infernos
deixa queimar os ossos
eexplodir os nossos
poemas
pós modernos

a vida pesa quando vale
Dani-se: Morreale

Artur Gomes

Profanalha NU Rio

a flecha de São Sebastião
como ogum de pênis/faca
perfura o corpo da Glória
das entranhas ao coração

do Catete ao Largo do Machado
onde aqui afora me ardo
como bardo do caos urbano
na velha aldeia carioca

sem nenhuma palavra bíblica
ou muito menos avária:

- orgasmo é falo no centro
lá dento da Candelária

Artur Gomes

Goytacá Boy

gosto de cumer
a traça
e se és parte da raça
nesta selva
vira caça
se és humana
e ultrapassa
a espécie
do que caço
estás salva
dos meus dentes
mas se ainda
és curuminha
por onde vais e caminha
entre a cidade
e o matagal
pode inspirar
meu samba/enredo
e desfilar
entre os meus dedos
onde tudo é carnaval

Artur Gomes

guaraná com isso aí

anote book
onde diz livro e vá pra New York
se enforque nos braços da liberdade
que auto se proclama
way of life mas your life
é sempre uma knife
de dois gumes
e aproveite
a nova liberdade
troque suas havaianas
por um nike
de um rolê no central park
e esqueça o ibirapuera
pela quimera
tua afro-tupy brasilidade
que vire cherock
e num big macand chery-cok
e à vontade
e aos domigos
lembre os sambas mais antigos
e escute apenas o som dos gringos
again to play in your head
assim aprende bem a língua
enquanto míngua e aí my brother
da tua língua mother
só restará a palavra saudade!

rodrigo mebs

Marçal Tupã

meu coração marçal tupã
sangra tupi & rock and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi-bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná

Artur Gomes

Preservamostra

Indiasmim qualquer cacique
aos belos vales o horizonte vale
Gota cá tantos Goytacás
água salgada em rios doces
nos olhos puros de mares agridoce
desgastados sem lares
em tocas parceladas
inagualadas
o capital do estrangeiro
o maltrato albardeiro
ó! Marubo, Arara, Gavião
280 mil índios no Brasil anfitrião
conserve a língua, brasileiros!
Não somos Portugueses.
tome o leite do vosso peito
filho original. Brasil real.
somos índios: o original!
na caça primitiva o vão da vida dá
as penugens rugem em vestes nudes
a verdade faminta fora hipocrisia
que demonio-cracia?!
sopro do vento canta os ouvidos atentos
ó verdadeiros, preservem.
Preservamostra e vinde a mim
as Indiasmim.

Dani Morreale
http://danymorreale.blogspot.com/

terra/mãe

agora que pairas sobre o tempo
quando o tempo ainda é tempo
ou quando invento no meu corpo
este teu tempo de existir
e reInvento o que ainda não existe
ou quando o tempo já se foi
sem sequer se existisse
ou se não visses tudo em ti
se já passou

agora mãe
é quando terra ainda me lembro
de algum tempo
na ferrugem que ficou
roendo os ossos dos meus dedos
não tenhas medo
de dizer que ainda é cedo
se alguma lágrima
sai do tempo que brotou

Artur Gomes

antropofagicamente
cumer or not cumer?:
this is the question

se é para matar a fome aline
se é para matar a sede alice
se é para cumer teu nome
metáfora tropicana
lambe a tropicAnalice

com as letras que restar do sobrenome
reInvento a tropicália
vais me ter em sagarana
mordo teus lábios de cigana
e só tua boca me define

artur gomes


20 de fevereiro

fosse quântico esse dia
calmo
claro
intenso
inteiro
20 de fevereiro
sendo assim esperaria

mesmo que em meio a tarde
tempestades trovoadas
insanidades
guerras frias
iniquidade
angústia
agonia
mesmo assim esperaria

20 horas
20 noites
20 anos
20 dias
até quando esperaria?

até que alguém percebesse
que mesmo matando o amor
o amor não morreria

Artur Gomes



césar castro - wermmer além da alma - transpirações gráficas





Mar de Búzios

vaza sob meus pés
um rio das ostras
enquanto minha mãos em conchas
passeiam o mangue dos teus seios
e provocam o fluxo do teu sangue
os caranguejos olham admirados
a volúpia dos teus cios
quando me entregas o que traz
por entre as praias e permites desatar
todos os nós do teu umbigo
transbordando mar de búzios
- oceanos
atrlântico pulsar entre dois corpos
que se descobrem peixes
e mergulham profundezas
qualquer que seja a hora
em que se beijam num pontal
em comunhão total com a natureza


A luz do meio-dia, transparente,
filtrava pelas paralelas bordas
da janela, e o confronto em fulgor das
frutas (ou da tua pele?) ardia quente.
Saudade é o que o torpor do sono senteda ilha.
Aquele céu (não te recordas?)
de acaso que no opaco véu põe gordas
camadas cambiantes de poente,
um outro brilho tinha. Onde eu dormia,
numa casinha litorânea e pobre,
no ar a luz das lâmpadas de cobre,
traçava lentamente espirais sobre
alva toalha, sombra em que se urdia
o teorema doutra geometria.


Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
É um não querer, mais do que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

Luis de Camões


Leminski Ana 9
para Marisa Francisco

o estado pode ser de choque
ou quem sabe até de surto
o soco pode ser no estômago
a facada for ferir o fígado
o bandido me assaltar na via
o sangue explodir na veia
a vodka só me der asia
todo instante que vier eu curto
a palavra que pintar eu furto
tudo o que eu faço é poesia.

artur gomes


Ney Matogrosso/Pedro Luis


Corre calma Severina noite
De leve no lençol que te tateia a pele fina
Pedras sonhando pó na mina
Pedras sonhando com britadeiras
Cada ser tem sonhos a sua maneira
Cada ser tem sonhos a sua maneira


Corre alta Severina noite
No ronco da cidade uma janela assim acesa
Eu respiro seu desejo
Chama no pavio da lamparina
Sombra no lençol que tateia a pele fina
Sombra no lençol que tateia a pele fina

Ali tão sempre perto e não me vendo
Ali sinto tua alma flutuar do corpo
Teus olhos se movendo sem se abrir
Ali tão certo e justo e só te sendo
Absinto-me de ti, mas sempre vivo
Meus olhos te movendo sem te abrir


Corre solta suassuna noite
Tocaia de animal que acompanha sua presa
Escravo da sua beleza
Daqui a pouco o dia vai querer raiar


sagarânica ou fulinaímica

jogo de dada/ista
não sou iluminista/nem pretender
eu quero o cravo e a rosa
cumer o verso e a prosa
amanhecer nova poética
devorar a lírica a métrica
canibalizar a carne da musa
seja branca/negra
amar/ela vermelha verde
ou cafusa
eu sou do mato curupira carrapato
eu sou da febre sou dos ossos
sou da lira do delírio
e virgílio é o meu sócio
pernambuco amaralina
vida leve ou sempre/vida severina
sendo mulher ou só menina
que sendo santa prostituta
ou cafetina
devorar é minha sina
profanar
é o meu negócio

artur gomes


O sentido normal das palavras não faz bem ao poema. Há que se dar um gosto incasto aos termos. Haver com eles um relacionamento voluptuoso. Talvez corrompê-los até a quimera. Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los. Não existir mais rei nem regências. Uma certa liberdade com a luxúria convém.


lindo, não é, Artur? parece contigo isso

Michèlle Sato


Bia de Dante 2

...e quanto mais ela sorrisse
eu entendia o que disse
:
me ame dentro dos olhos
e nunca mais ame a clarice
me venha com tuas juras
tuas taradas loucuras
teu amor antropofágico
me ame quando for lírico
me ame quando for trágico

sou beatriz e espero
por estes séculos afora
quem venha e me deflora
me liberte dos tecidos
quem me livre dos vestidos
me abra portas/janelas
me cansei destas esperas
decidida me entrego
a ti poeta das bocas dos infernos

sou razão dos teus delírios
e dos teus versos profanos
me livre de todos os panos
me prove do amor eterno

Artur Gomes


Artur. Você é umas das mais bonitas provas do quanto a virtualidade é o mais concreto dos mundos. O que me tocou quando te conheci foi a sua forma de ressignificar as palavras. Cansada de ler “batatinhas quando nascem”, sempre desejei alguma coisa nova... Alguma criação revolucionária que pudesse sair da mesmice, que pudesse mudar a vida, reinventando a paixão. Suas palavras enlouquecem verbos, deliram na musicalidade de quem ama e deve também fazer estragos aos quadradinhos que querem rotular tudo numa corrente literária, sem compreender as energias que transcendem escolas. Dizer que admiro você, frente a este contexto, parece pouco:

EU DELIRO POR VOCÊ!!!!





,furai
a pele das partículas dos poemas
viemos das gerações neoabstratas
assistindo a belos filmes de Godart
inertes em películas de Truffaut
bebendo apocalipses de Fellinie
em tropicâncer genocidas de terror

,sangrai a tela realista dos cinemas
na pele experimental do caos urbano,
tragaiDali pele entre/ossos
Glauber rugindo enTridentes
na língua do veneno o gozo das serpentes
nos frascos insensíveis de isopor

,caímos no poder do vil orgânico
entramos no curral dos artefatos
na porta de entrada os artifícios
na jaula sem saída os mesmos pratos


Detrito Federal

profano as tetas da vaca
e dou descarga na coisa privada
para limpar a coisa pública
estou aqui na república
império das empreiteiras
navios bancos fantasmas
laranjas vampiros de fato
dos esgotos surgem os ratos
nos palácios senados congressos
poeta não é o bobo da corte
poeta é pedra no sapato
governabilidade é o cacete
política não é só panfletagem
um país não é só a sacanagem
que se varre para baixo do tapete

arturgomes



ouvidos negros Miles trumpete nos tímpanos
era uma criança forte como uma bola de gude
era uma criança mole como uma gosma de grude
tanto faz quem tanto não me fez
era uma ant/versão de blues
nalguma night noite uma só vez

ouvidos black rumo premeditando o breque
sampa midinight ou aversão de broklin
não pense aliterações em doses múltiplas
pense sinfonia em rimas raras
assim quando desperta do massificado
ouvidos vais ficando dançarina cara
ao ter-te arte nobre minha musa Odara

ao toque dos tambores ecos sub/urbanos
elétricos negróides urbanóides gente
galáxias relances luzes sumos pratos
delícias de iguarias que algum Deus consente
aos gênios dos infernos que ardem gemem arte
misturas de comboios das tribos mais distantes
de múltiplas metades juntas numa parte

arturgomes


Metáfora

cavalo passo em tua janela e sem rédeas arreios ou celas alazão que sou de selvagens pradarias lagarto a soltar a pele depois de 40 dias me verão eu tigre expulso das jaulas farejando a caça pelos becos das tardes onde estão os alucinados da cidade enquanto ardendo ao sol a carne do meu corpo de estrelas cadentes e luas menstruadas despeja sobre teus olhos uma enchurrada de palavras como as cachoeiras que ainda não conheces e delas ainda não provou do líquido que teima em escorrer entre as tuas coxas onde minha língua há de beber um dia em que os sentidos me despertem e eu vá colher os lírios dos teus pântanos.

Artur Gomes
olho de lince

onde engendro
a sagarana

invento
a sagaranagem

entre a vertigem
e a voragem

na palavra
de origem

entre a língua
e a miragem


mordendo: o vírus da linguagem
no olho de lince do poema

Artur Gomes

sexta-feira, 19 de junho de 2009

arte digital: fátima queiroz




Mataram a Poesia Pastor de Andrade Jura Que Não Foi ele




Um poema zil

ma
ma
a floresta
rala
as araras
raras
os papagaios
nada
quero descobrir a nova fala dentro das penas de um bem-te-vi
dentro
dentro as escamas de um peixe espada
no cio das onças tigres lontras javalis e leopardos
quero minha nova fala ma ma mata a dentro
mesmo quando urbano sempre urbano entro
em cada carne em cada pedra onde subo pau a pique
Nick
a pedra é rock
a pedra é toque
a pedra é barro duro
e triturada é pó
faz tempo muito tempo
que não ouço
joão Gilberto
e ando tão desafinado
que o dente lambe a fala
e escava a lavra nova
faz tempo muito tempo
que não falo ave palavra
ave profana
ave cio
que não vejo o arrepio
de um pássaro selvagem
logo pós o pós mergulho
em algum canto
do rio
essa selva estraçalhada
faz tempo muito tempo
que não vejo
em mim cidade
goytacazes
goyta city
que não vejo em alvoroço
alegria quando festa
quando farra fausto
sol de verão
poesia e primavera
tudo o que ja foi
já era
mesmo o hoje
uma quimera
uma espera
insana e falsa
de um presente
que não vem
de um futuro absinto
mas que saber o que sinto
nada sinto
sinto muito
quer dizer
eu muito minto
minto muito
tudo é pouco
e o buraco
quando esgoto
na urbanidade do que falo
com os dentes na ferida
aqui tem tudo
falta vida
e a poesia foi vendida
e o poema
foi pro ralo

Artur Gomes
http://goytacity.blogspot.com/



Você é o livro
que eu levaria para
uma ilha deserta.
Desperta, pernas, pétalas
páginas abertas.
Você, você, você
é aquela que eu queria comigo.


Quando a coisa fica preta
quando ficar arco-íris
eu te digo.
Um dia eu volto
sim, eu volto e vou ficar
tão perto
que você não vai saber ao certo
se sou eu ou sou outro
que interpreto.




Como se fosse verdade encantações,
poemas Como se Aquele ouvisse arrebatado
Teus cantares de louca, as cantigas da pena.
Como se a cada noite de ti se despedisse
Com colibris na boca. E candeias e frutos,
como se fosses amante E estivesses de luto,
e Ele, o Pai Te fizesse por isso adormecer...
(Como se apiedasse porque humana
És apenas poeira, E Ele o grande
Tecelão da tua morte: a teia).
Como se fosse vão te amar e por isso perfeito.
Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se.
E não é Ele, o Fazedor, o Artífice, o Cego
O Seguidor disso sem nome?
ISSO... O amor e sua fome.


PoÉtica

quando tenso
o poema penso
fio suspenso
no Ar
quando teso
o poema preso
peixe surpreso
no Mar


Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só so em ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida


ciclo lunar

todo mistério
que há no fundo
dos teus olhos
seja ele mais profundo
alga do mar
água de rios
salgada ou doce
vou mergulhar
como se peixe eu fosse
e flutuar
no fluxo dos teus cios

artur gomes
Drummundo

eu sou drummundo
e me confundo
na matéria
amorosa
posso estar
na fina flor
da juventude
ou na bela idade
de uma rima primorosa
e até na pele/pedra
quando me invoco
e me desbundo
baratino
e então provoco
umbarafundo
cabralino
e meto letra
no meu verso
estando prosa
e vou pro fundo
do mais fundo
o mais profundo
mineral
guimarães rosa


arturgomes

domingo, 7 de junho de 2009






Somos pessoas
estranhas

somos
pessoas estranhas
nem
sabemos
que sonhos
que somos


esses olhos
poucos
essas folhas
secas?


esqueçam
fiquem
calados


somos
estranhos
no entanto
esta noite
dormiremos
lado a lado




Peônias negras serenas

peônias negras
serenas
quase secas
pombos se aquecem
num resto
de sol


uma planta
luta para
romper a fenda


formigas dragam
uma abelha
ainda viva


o inverno furta
a flor a cor
da fruta


(gestos & acenos
de sombras
não consolam)


a tarde passa
arrasta e deixa
um rastro prata


Seu corpo é uma praia deserta

Seu corpo é uma praia deserta
onde uma música desperta
numa onda esperta e a deserda:
espumas a ferem como pétalas.


Desterra, em tradução infinita,
pérolas na orla do olhar,
ilha que ainda está por ser escrita.


América # 3


Os desertos respeitam o tempo.
Veja como meditam, as pedras.
As areias são discípulos discretos,
corroendo os ossos do mestre com insolência.
O clímax do artifício está no azul
– paisagem total sem pontos de fuga.
Uma ruga vira uma gravura.
Vire-a do avesso e tens um deserto.
Uma tela de Monet vista de perto, por trás
– mas sem cor, sem aguapés, sem antes.
Deixe que o coiote nos espreite,
deixe que se deite entre as pedras
que nunca nos perguntam nada,
deixe que os mapas se percam, se rasurem.
Perdemos o sentido de direção:
as estradas são todas.
Um cactus se distrai contando roadrunners.
Veja sua poeira cruzando o panorama.
Os ecos que soltamos não retornam.

sexta-feira, 5 de junho de 2009










20 de fevereiro

fosse quântico esse dia
calmo
claro
intenso
inteiro
20 de fevereiro
sendo assim esperaria

mesmo que em meio a tarde
tempestades trovoadas
insanidades
guerras frias
iniquidade
angústia
agonia
mesmo assim esperaria

20 horas
20 noites
20 anos
20 dias
até quando esperaria?

até que alguém percebesse
que mesmo matando o amor
o amor não morreria

arturgomes
http://federicobaudelaire.blogspot.com/


fosse o que apenas já foi dito
escrito falado pensado
não fosse tudo o que já foi maldito
e nada do que nunca foi sagrado

falo em tua boca enquanto
um anjo em transe
me ilumina tanto
que mesmo mudo
em tua língua canto

como um diabo
que subindo aos céus
tentou muito mais de uma vez
quem sabe gregório ou quem sabe castro
descendo aos infernos
como sempre fez

talvez camões no corpo de um astro
me lance infinita a chama
da pornoGráfica lucidez

Esfinge 3

érica alice por quanto mais
eu não a visse estava ali
uma miragem
sem que eu fingisse
só voragem
uma mosca em minhas costas
tatuagem quase oposta

a mulher que em carne eu visse
me olhando bem de frente
com teus olhos de serpente
azuis que de repente
devoravam-me no que disse

travessia

de Almada
vou atravessar o Tejo
barco à vela
Portugal afora
em Lisboa
vou compor um fado
e cantar no Porto
feito um blues rasgado
de amor pela senhora
que me espera em paz
e todo vinho
que eu beber agora
será como beijo
que eu guardei inteiro
como um marinheiro
que retorna ao cais

quero dizer apenas
que não vale a pena
só te ver de longe
na fotografia
e pensar teu nome
para poesia
quero tocar teus poros
conhecer a pele
radiografar teus pêlos
ser teu dia a dia
A palavra surrealista é misteriosa, sedutora, erótica e até pornográfica. Entre lençóis de seda que tocam a pele na noite Severina, ou entre os espasmos das fantasias sexuais na mente, a poesia de Artur Gomes me enobrece. Porque sou parte do gênero humano e como amiga pessoal deste grande produtor cultural, sinto que suas palavras exercem o fascínio esquecido de todos nós. Obrigada por ser tão maravilhoso, querido amigo
Jura secreta 56

tens uma menina vadia
entre os teus olhos de ninfa
e o vulcão no teu umbigo
flor de lótus pele roxa
alguma alga marinha
na preamar das densas coxas
aberta mulher toda cio
desejo-te enquanto bebe come
onde provas do gozo ri e chora
teus beijos água de rio
mistério que me devora



nariz entope
ralo-rapé
entontorpece
benegripado
tomei banho de rua
na chuva
brincando de cair no buraco
de manhã madrugada
minha boca do céu
mamãe
traga
o hálito de hortelã
baseado na palha de milho

sucrilho
cereal
me disseram que quando eu crescer
eu vou ser serial-killer
titia
eu não vou ficar pra ti
amanhã
vou pegar o primeiro balão
e
em slow-motion
canta
rolando
locomotion
with me
vou me
mandar !



RI [T] MAS


Laranja da China
Franja da menina
Água e sal de Macau
Pau-brasil em Guiné-bissau

Kankodori do Japão
Uirapuru do Sertão

Caldos de cana caiana
Charutos de Cuba Havana

Mel da tua manga
Minha blusa sem manga

Alça do teu sutiã
Calça da minha irmã

Mar ou praia
Sai ou saia

Terça ou terço
Peça ou preço

Requeijão e queijo
Feijão e beijo

Queixa sem queixo
Deixa que eu deixo

Palha pro palhaço
Falha pra cagaço

Espinho de um pinho
Linha e linho do vizinho

Ascensão em queda
Queda em ascensão

Profissão de merda
Perda da razão.

papoética
enviesado p / o poeta chacal

é tudo tão chacal
do lado do cal
de cá do caos
nada maus
por todos bens
para nós
que somos sapiens
somos safos
na arte defato
de efeito
fácil
dos bons papos


Diz que sempre fomos por aí

Ajeitando o sutiã
levantando a blusa,
menina!

Está preparada para hoje?
Qual prédio
em Copacabana
pretende copular?

Quem é o velho safado,
tarado
desta vez, hein?

Quem você vai pegar?

Eu me lembro bem
daqueles tempos:

Fechávamos vários bares
pelo bairroda Tijuca
em 1998.

Noites de sábados
abotados.

Deixávamos nossas
respectivas famílias
a ver navios.

Tal como agora
não damos notícia
nem paradeiro

- Estamos na pista,
parceiro!

É o que você me diz
de pronto
sempre pronta
para encontrar amor

à segundas vistas.


ELE , FANTE

Ele
Fante
Fonte de uma escrita
rasteira
baseada na poeira
que cada estória contém

Ele
Fante
fez a ponte
unindo Joyce
a Dante
per passando por Cervantes

Ele
El boy bambino niño Bandini
Bandido
roubando-me
chamando-me
sempre à atenção
para a sua estrondosa emoção

Aonde há de haver brilhar a estrela
Camila?

Prossegue na busca incessante
pelo seu perfume moreno
(garota rota enem resquícios de rastros
das suas sandálias saltos gastos)

Sob o sol do deserto californiano
nascem crescem camélias
bromélias
azaléias
prímulas orquídeas jasmins
coqueiros cáctus vales
gotas de areia
e poças de mar
Mas Camila onde você está?!

Ele
Fante
está aqui!
melhor do que d’antes...
bancando o saltimbanco
em Bunker Hill

Seu sonho não é dourado
como de qualquer
outro americano
Tem orgulho e brio
de ser um carcamano
malandro-santo
amante da vida amador
marginal por questão
de honra
opção
e profissão:
Escritor.






posologia

da vida tenho provado
doses ousadas de paixões,
daquelas que marcam fundo,
mesmo que efêmeras,

daquelas que abrem caminhos
mesmo quando não levam
a lugar algum

tenho provado da vida
doses amargas de solidão,
daquelas que fazem da paixão
relógio de ponteiros cansados

da vida tenho provado
doses de sentimentos confusos
que as noites me servem
em goles desesperados

daqueles que viram tudo
de pernas pro ar
e depois se vão
no lamento do vento

tenho provado da vida
doses ousadas de paixão
mas do sonho,
eu sempre bebo a dose exata.

© Ademir Antonio Bacca
do livro “O Relógio de Alice”



encantamento

contemplo em silêncio
teu corpo inerte
que o claro de lua
revela
na noite insone

nenhum galo cantor
nenhuma música vindo de longe
a quebrar o encanto dos meus olhos

só o silêncio
e o movimento
dos meus dedos
desenhando o mapa
do teu corpo

© Ademir Antonio Bacca
do livro: “Grito por dentro das palavras”




quinta-feira, 4 de junho de 2009



Mataram a Poesia :
Artur Gumes
jura que não foi ele

um tiro na cabeça

duas facadas
na boca do estômago
dois tiros no pé

quatro tiros no peito

e sete nos braços

mataram

com um balaço
esquartejaram o esqueleto

no verso
do obscuro
como se ainda vivêssemos
terríveis anos de chumbo

e levaram
o bumbo
pra praça

tambores chocalhos cornetas
os bobos da corte

coitados

inocentes palhaços sem graça
apenas sorriso amarelo
diante a foice o martelo

pra obediência da rainha
do império do faz de conta

nos jardins do mal me quer

que não sabem quem foi paulo leminski

nem nunca leram charles baudelaire

federico DuBoi
http://carnavalhagumes.blogspot.com/

2009

jura secreta 77


tua língua

ainda trago em minha boca

gengiva mastigada

espasmo de orgasmo

e sangue

te devorei no mangue

entre

o que restou do mar

e a restinga

a flora a fauna

ainda virgem

piratininga

inda era uma lagoa

poesia

existia

não só em

fernando pessoa

agora

cobras lagartos jacarés

siris famintos no deserto

água alguma

e sede

tanta

se eu não beber

nas flores

do mal me quer

nos líquidos dessa

mlher

para aplacar meus desenganos

quem serei eu

daqui há 20

ou poucos

anos

?


Arturgomes

http://gotacity.blogspot.com



Tendal


Entre a terra e o céu está o outono

- asa ferida, agrimensor do sono

no delírio da queda estende estrelas

para proteger quem regressa da vida.

Ponho sobre os plátamos os cansaços

inefáveis. Perdoa-me o medo de sofrer

busquei novos rios de regresso

à casa de nomes apenas ornados

para a grinalda com raiva e tempo.

O poeta abre no poema o outono

e mede com seu rosto o abandono

das coisas amadas. O silêncio ajudou

a desatar o crepúsculo junto

à árvore na dureza agressiva

das raízes. Aqui está o vestígio estranho

da cantiga movida dos ninhos e

das flores. Não passes o outono

sem uma dádiva, celeiro ogival,

desigualdado templo de portas

abertas. Aqui está o longo outono

de todo em tuas mãos.



Velhice


Não é voltar que entristece – é não poder

reter nas mãos o sol o chão a lembrança,

sondo turvadoramente os próprios passos,

o caminho de reaver a sombra

durante horas a fio os velhos

cinamomos que não vemos mais.

O meu anjo da guarda banido de ternura

mais do que diante da morte

confunde a hera e o musgo, colhe

as rosas do amor e do vento.

De repente, o vento faz-se humano.

As sombras são sandálias

Portadoras de amplidão estendida

para dentro do nome. A aldeia

guardou intactas as coisas tímidas,

desde ontem a infância existe

só para querer revê-la novamente.

E há de ser o limiar de cada um que nos ouça

sem disfarces, quando a noite chegar

como quem folheia um livro de figuras.

Não é a volta que entristece... É pertencer

às lembranças sem poder atapetar

o silêncio de quem volta.


Oscar Bertold

terça-feira, 2 de junho de 2009



Nação Goytacá

As inscrições para o Concurso de Criação da Assinatura Visual da ONG Nação Goytacá – Associação de Arte e Cultura Esporte e Lazer, estarão abertas a partir do dia 3/6 até o dia 20/6. Regulamento e ficha de inscrição no blog http://goytacity.blogspot.com/

veja vídeo com a canção Nó do Tempo, de Cris Dalana http://www.youtube.com/watch?v=I3Kk-BKEDp4&feature=channel_page

May interpreta Artur Gomes
http://www.youtube.com/watch?v=IN4fknUxiwM&feature=channel_page

bolero blue

beber desse conhac
em tua boca
para matar a febre
nas entranhas entredentes
indecente
é a forma que te como
bebo ou calo
e se não falo
quando quero
na balada ou no bolero
não é por falta de desejo
é
que a fome desse beijo
furta qualquer outra
palavra presa
como caça indefesa
dentro da carne
que não sai


Artur Gomes
Fulinaímaproduções:
http://youtube.com/fulinaima

segunda-feira, 1 de junho de 2009

VOLTA DE PASSEIO

Assassinado pelo céu,
entre as formas que vão para a serpente
e as formas que buscam o cristal,
deixarei crescer meus cabelos.

Com a árvore de tocos que não canta
e o menino com o branco rosto de ovo.
Com os animaizinhos de cabeça rota
e a água esfarrapada dos pés secos.

Com tudo o que tem cansaço surdo-mudo
e mariposa afogada no tinteiro.
Tropeçando com meu rosto
diferente de cada dia.
Asassinado pelo céu !

O POETA PEDE AO SEU AMOR
QUE LHE ESCREVA

Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de kordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

Federico Garcia Lorca