eram milhões de vezes soçobrando interstícios de universo centrífugo do rei que emudecera palavras amaldiçoadas degeneram hipocrisia assolando singelezas o rei senta elegantemente sobre seu trono tentando abafar retratos incendiados ultrajantes engasgos preteridos incuráveis oráculos invertidos pelas cinzas diminutas sacudidas nas ampulhetas ilusórias dos fenômenos descartados nos jogos de azar tabuleiro sem nuances desamados castelo de amarguras desbotadas ofegando sentenças renunciadas pela vítima reinado de orquídeas prostradas no parapeito contemplam escoadouro da dignidade e da descendência louros reptilianos dourados de ofuscar distintivo mascaram nitidezes na incidência das frutas hipnotizadas pelo sopro sim, havia livros nas estantes nos instantes descalculados da potencialidade ansiada e personagens dançando sobre prosas infindáveis repousadas no colo da cortesã madrugada apaixonados sobre pontes entre um caco de vidro e outro houve voos partidos dentro de v i d a s n sementes brotando na festa, graças e améns murchados entusiasmo acovardado por desencontros enroscados em lençóis úmidos lágrimas sobre línguas cidades que caminharam dentro de nós sinais indecifráveis de Tibiriçá lampião se apaga sob angicos como os olhos encerram a pétala decorada no templo arruinado por hostilidades pintura de abaetés na pele do amanhecer tingindo beijos transtornados que se arredam do marco zero aos pés de Paulo mas o rei apressado pelas aniquilações corre ao revés com cetro no verbo reflexos de cordeiros encharcados claridade desamparada pelas portas certas angústia coçando os pés quebradiços desligamento com a sacralidade do minuto perpétuo mergulhado no girassol segredado em cada peito ininterruptamente asfixiado pingo indissolúvel na xícara de café magoada pela queda cai rei de copas por baixo da mesa embriagado e coxo recolhendo versos escorregadios que se movem entre casas brancas e pretas armaduras despertadas nas torres trepidantes artifícios enxadristas para a desnutrição oferecidos em banquete sensual coroa de diamantes incrustados em ouro velha velhíssima que tomba em um xeque-mate dentro do silêncio perturbável de todos os mesmos dias
Perdi os meus modos Rasguei os modismos Quebrei a moldura Que molestava meu rosto. Esfarelei as moléculas Me reverei em cubos Cones, cilindros Seios nos olhos Olhos nas coxas Boca no sexo Céu na boca Língua nos ares Comendo as moscas, Palavras na sopa Da área do barulho. As múmias se levantam Das pinturas cubistas Tropeçam nas formas Com a cara no concreto, Ossos por todos os lados Almas a navegar no céu, Batucada com ossos Umbigada de vento Beijo de sopro mordido No perfume que veste A caveira ambulante A mulher de cubos Encaixada nos fósforos Que ascende a alma Riscando a vida Na chama que chama A vida que ascende e apaga Num sopro só. Quero me virar em cubos Tinta, fogo, chama Na cama, no ventre De frentre, pra trás..... No cais do País do Navegar Vejo o barco voando No sopro do vento Penetrando as nuvens Despindo os mares Na fúria das marés Que batem nos meus pés....
A união azulada de nossas íris deixaram para a noite da estrada percorrer a saudade de cada intenso momento em que existes na minha vida (presente ou não). Quis as coxas anêmicas me dando apoio feito travesseiro... deixar o vinho confundir as pupilas... me permitir a paz que só tu me trouxeste em tão pouco tempo de convívio, em tantos anos de presença em mundo. A felicidade de te rever iguala-se à tristeza de te ver partir.
"The scars of your love remind me of usThey keep me thinking that we almost had it all The scars of your love they leave me breathlessI can’t help feeling" ("Rolling in the deep" - Adele)
oh! my brazil ainda em alto mar cabral quando te viu foi logo gritando: terra à vista! e de bandeja te entregando pra união democrática ruralista.
ê fome negra incessante febre voraz gigante ê terra de tanta cruz
onde se deu primeira missa índio rima com carniça no pasto pros urubus
por aqui nem só beleza nesses dias de paupéria nação de tanta riqueza país de tanta miséria
terra de santa cruz ao batizarem-te deram-te o nome: posto que a tua profissão é abrir-te em camas dar-te em ferro ouro prata rios peixes minas mata deixar que os abutres devorem-te na carne o derradeiro verme
salgado mar de fezes batendo na muralhas do meu sangue confidente quem botou o branco na bandeira de alfenas só pode ser canalha na certa se esqueceu das orações dos penitentes e da corda que estraçalha com os culhões de tiradentes
salve lindo pendão que balança entre as pernas abertas da paz tua nobre sifilítica herança dos rendez-vous de impérios atrás
meu coração é tão hipócrita que não janta e mais imbecil que ainda canta: ou viram no ipiranga às margens plácidas uma bandeira arriada num país que não levanta
só desfraldando a bandeira tropicalha é que a gente avacalha com as chaves dos mistérios dessa terra tão servil tirania sacanagem safadeza tudo rima uma beleza com a pátria mãe que nos pariu
bem no centro do universo te mando um beijo ó amada enquanto arranco uma espada do meu peito varonil espanto todas estrelas dos berços do eternamente pra que acorde toda essa gente deste vasto céu de anil pois enquanto dorme o gigante esplêndido sono profundo não vê que do outro mundo robôs te enrabam ó mãe gentil
telefonaram-me avisando-me que vinhas na noite uma estrela ainda brigava contra a escuridão na rua sob patas tombavam homens indefesos esperei-te 20 anos ate hoje não vieste à minha porta
o poeta estraçalha a bandeira raia o sol marginal quarta feira na geléia geral brasileira o céu de abril não é de anil nem general é my brazil minha verde/amarela esperança portugal já vendeu para frança e coração latino balança entre o mar do dólar do norte e o chão dos cruzeiros do sul
o poeta esfrangalha a bandeira raia o sol marginal sexta feira nesta porra estrangeira e azul que há muito índio dizia:
meu coração marçal tupã sangra tupy & rock and roll meu sangue tupiniquim em corpo tupinambá samba jongo maculelê maracatu boi bumbá a veia de curumim é coca cola & guaraná
o sangue rola no parque o sonho ralo no tanque nada a ver com tipo dark e muito menos com punk meu vício letal é baiafro com ódio mortal de yank
ó baby a coisa por aqui não mudou nada embora sejam outras siglas no emblema espada continua a ser espada poema continua a ser poema
neste país de fogo & palha se falta lenha na fornalha uma mordaz língua não falha cospe grosso na panela da imperial tropicanalha
não metam neste planos verdes/amarelos meus dentes vãos/armados nem foices nem martelos meus dentes encarnados alvos brancos belos já estão desenganados desta sopa de farelos
meto meus dedos cínicos no teu corpo em fossa proclamando o eu ainda possa vir a ser surpresa porque meu amor não tem essa de cumer na mesa é caçador e caça mastigando na floresta todo tesão que resta desta pátria indefesa
ponho meus dedos cínicos sobre tuas costas vou mastigando bostas destas botas neoburguesas porque meu amor não tem essa de vir a ser supresa é língua suja e grossa visceral ilesa pra lamber tudo que possa vomitar na mesa e me livrar da míngua desta língua portuguesas
No destempero e ardências da fúria inaugural a palavra sem proveito (verbalização de corpos)
No rito já maturado do caminho reconhecido a muda comunhão (frêmito de carne e espírito)
Urgências mitigadas os silêncios primordiais já agora interpretáveis (epifania outonal)
O silêncio dos espelhos
(lembrando Borges)
Nus e silêncios coabitam meus espelhos (mergulho e espanto) abismos refletidos nova e (irre)conhecida história
Memória
Em meu dedo o teu dedal (tento, mãe costurar tua memória prender-te ao que me resta) Incertos pontos que a vista embaçada não deixa urdir
Pensamentos luxuriosos
Ver-te.Tocar-te. Que fulgor de máscaras. Hilda Hilst
Pensava nele quando a seda do vestido tocou-lhe as coxas eriçando-lhe os pêlos (asas a roçar o espírito tocha a incendiar a carne)
Pensava nele quando a voz de Maria Callas alcançou a nota mais aguda - L’atra notte in fondo al mare – invocando Mefistofele (setas fálicas a zumbir junto aos ouvidos aromas de sândalo a embebedar os sentidos)
De tanto nele pensar Devorou a si própria l u x u r i o s a m e n t e (espírito só carne)
Dias de ira
Ira furor brevis est Horácio
No furor mais insano dos ardores intensos a marca da traição : revoltos sentidos
Nos braços da ira a lava das palavras tatua impropérios : inesperada queimadura
(por fim) Compaixão e ungüentos compressas frias gestos de paz : ardências já cinzas
Extraídos de RETRATOS FALHADOS (São Paulo: Escrituras, 2008). Exemplar doado por Aricy Curvello para a Biblioteca Nacional de Brasília.
Meu Pai – Retrato Falado
Da palavra escrita, tudo ignora acha que ler demais faz mal à saúde e aos olhos (à semelhança de Caeiro acredita apenas no que vê e vive nas árvores, nos pássaros, na Tv) Elegeu, durante oito décadas algumas (poucas) verdades imarcescíveis
Também à maneira de Caeiro não acredita em metafísica (aliás, ignora solenemente o termo) mas vez ou outra, elege um Menino Jesus que tanto pode ser o seu médico (compreende suas dores – sábio para sempre) alguém que lhe fale em espanhol ou aquele que lhe diga apenas o que deseja ouvir
Na memória auditiva preservou frases imutáveis válidas para todas as ocasiões (tantas vezes repetidas até serem transformadas em verdade)
Não acredita em fantasmas nem que o homem chegou à lua Odeia políticos e política (o Presidente é o culpado por tudo)
No plano dos afetos os pais e os irmãos a primeira namorada a companheira definitiva os filhos e os netos dois ou três amigos de infância (nenhum na velhice – já morreram todos)
Algumas (poucas) paixões : fotografar conduzir automóveis criar passarinhos vangloriar-se de seus (ingênuos) feitos
Não aceita que lhe falem da velhice (nenhuma de suas mazelas, acredita, dela é decorrente)
Um homem frugal de pensamento concreto (o que nós vemos das cousas são as cousas) O mundo resume-se à sua ética particularista e particularíssima (o mundo – e o corpo – como vontade)
10 de junho
Olhos e carne a beber o verde-rubro bandeira escancarada à emoção.
Vinho (será ele o luso símbolo ou o sangue que ferve e incendeia este pendão?).
Saudade mordendo feito bicho feito tempo, feito chama.
Orgulho raça amálgama de raças cravos de abril rasgando a história língua pátria outra para milhões
Camões nem é preciso que o digas nem compêndios, calendários ou cantigas apenas o sangue a rugir em campanário rubro lembrete mais do que nunca hoje é dia de sentir-se português.