segunda-feira, 8 de março de 2010

chama que te vela
que te vale a lida
quando lida se revela
força que conduz
que te livra que te eleva
que não te priva da luz
enquanto provas da treva

rodrigo mebs
http://frutafarta.blogspot.com/

Um Pique

Não quero ser teu amor,
nem que sejas o meu,
não quero ser teu bem,
não serás meu anjo,
nem meu rei,
muito menos o príncipe.

Eu não sou a musa,
não sou a que passa,
nem aquela que fica.

Não quero castelos,
nem jardins suspensos,
nenhuma maravilha.

Mas no exato instante
em que estiveres comigo,
quero ser tua chuva, teu sol, teu abrigo.

Não quero ser a última,
nem a primeira...
Serás meu campo de trigo,
meu brinquedo preferido,
meu feliz pique bandeira!

Euridice Hespanhol
Lirios no deserto
Amores de brinquedo.

Elogio à loucura


Quero uma ponte amarela e um campo de girassóis ensangüentados
Quero um sapato que fale a poesia de tempo e o caminho do homem
Quero um crime e um castigo na intensidade que cega as neves eternas
Quero uma existencialidade de cores e amorfas paixões nas ruas de Paris

Quero um incesto demoníaco num cosmos olímpico de ópio
Quero a insensatez dos meus heterônimos e as suas mortes prematuras
Quero uma gentileza de ruas sujas e perdões fuzilados nas favelas
Quero uma noite e o dia no crepúsculo agonizante da tela inacabada

Quero o espetáculo de Bicetrê num carnaval de humanas cinzas
Quero o lado escuro da lua e o livro de cabeceira de Sid & Nancy
Quero o fuzil do guerreiro contemporâneo atirando a esmo na guerra escura
Quero rasgar o dinheiro sujo do poder e chutar o balde da insana sobriedade

Quero parir palavras que escolham um destino fora da minha geografia mental
Só isso, o resto é loucura.

Flavio Pettinichi-17 – 03- 2010

buceta de subúrbio ornamentando a rua

ela agachou no meio fio e aliviou
indiferente às buzinas
aos cuspes
a todas as latrinas

ela fumava um fino ainda
e tinha um resto de dente no sorriso
fazia contorcionismo
para ver a fumaça que fugia
da calçada

mijo quente pedra fria
tanta gente passava
ninguém (h)a via

Sandra Santos


Espelho

Não vou gritar
gosto do silêncio
do som ameno
Prefiro a música ao berro
o canto ao desespero
Sou desassossegada
embora não pareça
Meu avesso é a inquietude
que me move
Meu rosto comunica
tenho que cuidar do que não digo
Mãos falam melhor que minha voz
deixo que se expressem
À medida que me traduzem
eu me expando em mim


Sou decifrada
para alguns undecifrável
depende de quem me lê
além do olhar, além dos versos, além da palavra
Uma mulher muito menina
Uma menina um tanto mulher
Alguém que sonha
e se cansa
mas não deixa a batalha
Insiste em colher esperança
nas verdes folhas das árvores,
se perfumar com a fragãncia das rosas
e voar em pensamento com os pássaros.

Fátima Nascimento - 25/02/2010

http://www.verbosoltoblogse.com.br/
http://www.flickr.com/fatimanascimento

a rosa e o espinho

o que sai da tua língua não me basta
eu quero toda boca
o que sai da tua boca não me prende
eu quero toda língua
o que me prende em tua coisa
é isso tudo
aquilo que talvez não se entenda
ou se entendendo não se explique
está muito pra lá da tua casa
a chama do meu cio fogo e brasa
na boca mora a língua quando beijo
na língua a saliva quando goza
amor é poesia nunca prosa
na flora do teu sexo
eu quero a folha e o espinho
a pétala o pólen e a rosa

mesmo não oferecendo a ti
tudo no que desejo e quero
me vem da tua boca
a palavra que espero
roubado o beijo a língua cala
mesmo quando fala
girassóis e frutas
e tua coisa absoluta
em minha carne pulsa
e o beija-flor escuta
a voz do bem-te-vi

couro cru & carne viva

ainda que fosse faca
tatuagem em tuas coxas
não fosse tinto esse vinho
fosse o branco dos teus lábios
pedindo: beba-me
entaõ mordesse tua língua até sangrar
reteza-me o corpo os angue do teu cio.

espada dentro da noite
lua do teu espelho
lagarto por tuas pernas
um tigre uivando manso
depois da presa alcançada
não fosse o punhal de prata
dentro do quarto quebrado
o abajour apagado
a cama desfeita no escuro
eu re-m oendo o passado
entre os lençóis dos teus dedos

por mais que diga-me: obrigado
respondo: é de graça não tem preço
a boca, a língua, a carne, os músculos
linguagem lira delírio sangue sexo
não há dinheiro que pague
pelo mínimo que ofereço

arturgomes
http://courocrucarneviva.blogspot.com/


Tu Queres Sono: Despede-te dos Ruídos


Tu queres sonos: despedete dos ruídos, e
dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito,
e roupas, choros, cordas e
e também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas e
que sobrevoam o cadáver do teu pai e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, e os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem ao sono

Ana Cristina César

Mapa de Anatomia: O Olho

O olho é uma espécie de globo
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.
Muitas pinturas:
azuis, verdes, amarelas.
É um globobrilhante:
parece cristal,
é como um aquário com plantas
finamente desenhadas: algas, sargaços,
miniaturas marinhas, areas, rochas, naufrágios e peixes de ouro.

Mas por dentro há outras pinturas,
que não se vêem:
umas são imagens do mundo
outras são inventadas.

O olho é um teatro por dentro.
E as vezs, sejam atrores, sejam cenas,
e as vezes, sejam imagens,s ejam ausências,
formam no Olho, lágrimas.

Cecília Meirelles

chato é o caralho
dá licença

deu não ser macho
deu não ser moço
nem pré-socrático

não gosto de funk
não gosto de Frank
não gsoto de fato

tira a cebola
tira a pessoa
tira o barulho infernal

tira o moleque
me tira da fila
não é nada pessoal

Sandra Santos

quinta-feira, 4 de março de 2010

canção para tatiana



a ciranda a roda
anda vai
que tua dança
avança em mim
em rotação contínua
roda viva
dessa maré/cidade
em liberdade canta
que o instante é pouco
e fosse inteira a vida
ainda seria pouca
por tanto mar que inda me revele
ou sendo ilha
tua flor da pele
me traz perfume
o mar em teu olhar
de tanta luz
me cega em noite clara
e a mansidão que vem de tua fala
é como brisa
que eu gosto de cantar
arturgomes

quarta-feira, 3 de março de 2010

bolero blue



beber desse conhaque
em tua boca
para matar a febre
nas entranhas
entre os dentes
indecente
é a forma que te bebo
como ou calo
e se não falo quando quero
na balada ou no bolero
não é por falta de desejo
é que a fome desse beijo
furta qualquer outra
palavra presa
como caça indefesa
dentro da carne que não sai.
Artur Gomes

certeza não cabe a ninguém

a natureza da dúvida e da fé
é o medo que a vida tem
que a morte acorde mais cedo
e seja eterna também.
asa à cobra
guiso
fácil riso
amor assim
preciso
raso
fluido sem sonhar
ser paraíso
leveassim mesmo
como se deve
amor de ave
e não de eva
amor de luz
amando a treva.
rodrigo mebs