segunda-feira, 28 de junho de 2010

cine video urbanidades





jura secreta 112

a faca entre
os teus dentes
na gengiva sangra
trafego em angra
pela ilha grande

e
os teus olhos
ainda estão na praia
arraia fêmea
prenhe pelo macho

re/leio olga

algas me roçando
as coxas
me lambendo acima
do umbigo
embaixo

Arturgomes
canibália city
http://goytacity.blogspot.com/
SampleAndo
http://artur-gomes.blogspot.com/

quinta-feira, 24 de junho de 2010

louvação




singela oração aos blogueiros desocupados

1

no dia 6 de agosto
cachorro que soy louco
com gosto
vou louvar o meu
senhor

2

salve-me
santíssimo salva/dor
da dor
do horror desta cidade
que um dia foi
dos goytacazes
mortos por urubus
da terra alheia

3

santíssimo
salva/dor
salve-me da santa ceia
salve-me
das virgens de pedra
das santas que não são fedras
as “padroeiras” do Brasil

4

salve-me
santíssimo salva/dor
da feracidade horrorosa
sal-ve-me
do encravo e da rosa
dos carnavais
no mês de abril

5

pro diabo
não sou santo
nem visto o corpo com manto
soy
couro cru & carne viva
soy
carne viva & couro cru
não tenho a língua
que medra
soy carNAvalha
na piedra
my sagrado y profano
aprendiz de los hermanos
canibais lá do xingu

6

não tenho amor pelas santas
meu sangue corre nas plantas
em minhas mãos
esmeril
mas tenho amor pelas putas
a prostituta que pariu

7

santíssimo
salva/dor
salve-me da dor
do desgosto
de desfraudar mês
agosto
bandeiras tropicanalhas
salve-me
das catequeses
dos evangélicos pastores
de amores
de sacristia
salve-me da hipocrisia
planalto central
céu azul

salve-me
deste país
e deste estado de surto
se é pra xingar
não me furto
na flor da pele não tem panos

salve-me
destes tiranos
dos campos
da américa do sul

arturgomes
http://pelegrafia.blogspot.com/
canibália city
http://goytacity.blogspot.com/




experimentações/interlinguagens

1

hoje em ti
amanheci
ana/brasília
mesmo
não sendo
mulher
ou filha
bem-te-quis
meu
bem-te-vi
ao levitar
em tuas asas
mergulhei mares
que em teus olhos
conheci

2

Xangô
é parte da pedra
Exu fagulha de ferro
Ogum espada de aço

faz do meu colo
teus braços

Oxossi carne da mata
Yemanjá água do mar
Yansã é fogo vento tempestade

Oxum é água doce
Oxalá em ti me trouxe
te canto como se fosse
um novo deus em liberdade

3

sou teu leão de fogo
todo jogo
que me propor eu topo

beber teu copo
comer da tua comida

encarnar de frente
a janela de entrada
e se for preciso
:
a porta de saída

4

moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como o beijo no teu corpo agora

desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta
sendo animal da mata atlântica
quântico amor ou meta física
tudo que em mim não há respostas

metáfora d´alquimim fugaz brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele pelas tuas costas

os bichos amam em comunhão na mata
como se fosse aquela hora exata
em que despes de mim o ser humano
e no corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo.

arturgomes
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o sem nome

não quero o silêncio
como arma
lira lero
de algum bolero
com letra
pra calar boca
água fria no fogo

quero o incêndio
a fogueira
sei o quanto me negas
o fruto proibido

mas oculto na noite
entro por porta dos fundos
e roubo
a maçã do pecado
enquanto dorme
e sonhas
com alices
no país das maravilhas


mergulho tuas ilhas
devasto teus porões
na sala
derrubo tua mobília
no quarto
devasso teus colchões

na cozinha
bebo do teu vinho
e como do teu pão
não tenho nome
sou o que te come
sem pedir perdão


a vingança do vampiro brasileiro

a rosa apodreceu
no jardim das oliveiras
o encravo
deu com a cara no muro
do palácio guanabara

a filha
tem duas caras
aos domingos reza pro santo
nas sextas
pro capataz
há muito tempo meu chapa
venderam a mãe pro diabo
pensando fosse capaz






para uma puta em taguatinga



ela me conta
que seu ex
não quer pagar pensão
e de como a vida
tem sido dura
com ela
ouço sua cantilena
de puta triste
enquanto o ar condicionado
ronrona um soneto desesperado
e sob seus cabelos
um reino de abandono
seduz-me os dedos
neste quarto de hotel barato
numa noite barata
de rimas escassas
vislumbro o corpo
que há pouco
acolheu
minha solidão
salve pequena puta triste
salve doce menina
do alto dos prédios
escárnio
e indiferença
te cobiçam
e nos outdoors
a realidade sorri para a puta
e para o poeta
e todos na cidade
esperam encontrar
um amor
e todos na cidade
buscam alguém
e nesta hora
todos estão voltando
para suas casinhas de boneca
para suas vidas de plástico


Fernando Freire
Gama, 25/06/2010

sábado, 19 de junho de 2010

A-mar-ia

Eu não quero os bibelôs de ontem
nem os olhares e os beijos enterrados
nas cartas deste armário
não quero as memórias estáticas em foto-porta-poeira

Quero a invenção de novos sentidos
percorrer papéis dis-grafados
Sem-escritos
Não busco a memória de um tempo perdido
não dormiria com Proust
nem mesmo amaria nostálgicos homens.

Doaria, sim, este corpo aos versos de M.A
e a poesia da mulher do ponto de ônibus.

beijaria os lábios de Hilst
amaria os amantes dos meus amantes.

Karol Penido
http://aquarelaemversos.blogspot.com/



AO VENTO

O vento passa a rir, torna a passar
Em gargalhadas ásperas de demente;
E esta minh’alma trágica e doente
Não sabe se há de rir, se há de chorar!

Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amor,
A tua voz tortura toda a gente!...

Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim!... O vento, chora!
Que eu bem conheço, amigo, esse fadário

Do nosso peito ser como um Calvário,
e a gente andar a rir p’la vida fora!!

Florbela Espanca



E acordamos cegos, mudos e incólumes antes do espanto
Alguns elefantes pisotearam teu jardim de verdes sonhos
E a águia foi fazer ninho no chapéu olvidado do avô
Porque as nossas tardes são assim ,ainda, quando esquecemos
O silêncio.

Lembra dos instantes onde a agonia era quase um balsamo?
E das feridas como troféus duma batalha tingida de crepúsculos?
Como era estranho não reconhecer os nossos pecados e rir
E a penitência era alguma fruta roubada na primavera de Maria

Desconhecemos a temporalidade e a métrica das horas
Segundos ou palavras, horas ou rimas e o teu olhar negando as distâncias
Quem de nós amarrou o corcel antes que as tormentas chegassem?
Poças de pestilentas larvas já não atraem as borboletas nem os lagartos suicidas
Pergunto-te de novo, quem de nós amarrou o corcel antes que as tormentas chegassem...

Flavio Pettinichi- 03- 06- 2010



DE UM LADO E OUTRO

Me fosse dada
a graça
de ser um outro,

aceitaria, quem sabe,
ser você,

você, de corpo e alma,
desde que você,
é claro,
me aceitasse

assim
tal qual eu sou.

Alcides Buss
http://www.alcidesbuss.com.br/




Artur, essa é pra vc, meu velho !
Abraços, Rogerio

Gomes & Gumes
ROGERIO SANTOS(para Artur Gomes)

o gume da brisa avisa
que Artur, bardo rei
sua poesia metralha
entre o calçado e a calçada
entre o mar e a muralha
da musa de tanga a cangalha
bala fala de navalha
dos entrefolhos, bocas
& beco das garrafas
suculentos poemas em pets
cruza Crusoé sete mares
moura pepita de pirita
onde quem cala naufraga
Artur é enxada
minhoca danada
é espada cravada
na fenda da palavra
(e ai de quem pedra furada)

Rogério Santos
Acabei de postar no meu blog

www.folhadecima.blogspot.com

value="http://www.youtube.com/v/J-rgKf4cG9g&hl=pt_BR&fs=1&">

Negra Tez




vestígios do homem no planeta: - fotos: artur gomes








Sou a palavra cacimba
Pra sede de todo mundo
E tenho assim minha alma:
Água limpa e céu no fundo

Já fui remo, fui enxada
E pedra de construção;
Trilho de estrada –de –ferro,
Lavoura, semente , grão
Já fui palavra canga,
Sou hoje a palavra basta.
E vou refugando a manga
Num atropelo de aspa

Meu canto é faca, punhal
Contra o feitor
Dizendo que minha carne
Não é de nenhum senhor

Sou o samba das escolas
Em todos os carnavais
Sou o samba das cidades
E lá dos confins rurais

Sou quicumbi e Moçambique
No compasso do tambor.
Sou o toque de batuque
Em casa gege-nagô

Sou a bombacha do santo
Sou o churrasco de Ogum
Entre os filhos dessa terra
Naturalmente sou um

Sou o trabalho e a luta
Suor e sangue de quem
Nas entranhas dessa terra
Nutre raízes também!!!

dedé muylaert




DUAS FACES

O amor tem duas facas
uma corta outra costura.
O amor tem duas balas
uma mata outra madura.

O amor tem dois olhares
um de calma outro de ira.
O amor tem duas falas
uma cala outra é mentira.

O amor tem duas condutas
uma puta outra santa.
O amor tem duas vozes
uma chora outra canta.

O amor é dois e sendo
trás em si contradições
Zeca Tocantins



dedos dados

a mão nessa garrafa
não tem lance de dados
mas tem
dedos de louça
sensíveis
dedos de fada

pensando Cecília Meireles
não sei se alegres
ou tristes

mas sei:
esses dedos existem

arturgomes
http://artur-gomes.blogspot.com/



canibália city 1

poema anti metafórico

maria da penha
olha o namorado
:
pega mata e come
:
e não consegue
matar a própria fome


arturgomes
brazilíricas

um tapa no branco
tragado no preto
como instante opus
ópio de pessoa
como fiapo de manga
entrelaçado nos dentes




DECISÃO


Rompi relações
com a burguesia.


Ele só paga
em dinheiro.


Eu só recebo
em poesia.

Zeca Tocantins


Do Livro Colhedor de Manhãs.




CONFISSÃO


Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém

Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios

Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...

Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

Mário Quintana

sábado, 12 de junho de 2010

Se Porém Fosse Portanto

Se Porém Fosse Portanto
Se trezentos fosse trinta
o fracasso era um portento
se bobeira fosse finta
e o pecado sacramento
se cuíca fosse banjo
água fresca era absinto
se centauro fosse anjo
e atalho labirinto
Se pernil fosse presunto
armadilha era ornamento
se rochedo fosse vento
cabra vivo era defunto
se porém fosse portanto
vinho branco era tinto
se marreco fosse pinto
alegria era quebranto
se projeto fosse planta
simpatia era instrumento
se almoço fosse janta
e descuido fosse tento
se punhado fosse penca
se duzentos fosse vinte
se tulipa fosse avenca
e assistente fosse ouvinte
se pudim fosse polentas
e São Bento fosse santo
dona Benta fosse benta
e o capeta sacrossanto
se a dezena fosse um cento
se cutia fosse anta
se São Bento fosse bento
e dona Benta fosse santa.

Cacáso - Antônio Carlos de Brito

sexta-feira, 11 de junho de 2010

aboio




ainda tarde
mas é tempo

tempo futuro
é agora
tempo presente
já foi

por isso
inda toco meu boi
não boto conversa fora




canibália city 2
um poema ácido

os fantasmas
ainda sobrevoam
sobre telhados de vidro

laranjas continuam espalhados
aos quatro ventos

algo de podre fede
em goyta city
e nenhum perfume
é capaz de apagar
o odor da lama bruta

se na esquina
o bandido tem direito
de exercer a profissão

não quer dizer
que político
pode saquear a coisa pública
como se fosse privada

onde nem descarga
consegue descer
a merda
do ralo pro esgoto


e o mais escroto
disso tudo
é saber que não foi
esse tipo de poder
que o povo lhe concedeu

arturgomes
http://goytacity.blogspot.com/

bela mais que bela

sensualidade em tua boca
é mato
eu sei do fato que me prende
ao teu sorriso
o siso que me atrai
quando atiça

larissa tens no nome
miranda o sobrenome

na película do meu filme
quero tua pele no acetato

e
na cardiografia do poema
te foto grafo no cinema
para o meu álbum de retrato


maralto

não entre
neste mar
em tempestade

as gaivotras
sobrevoam
a praia
e só mergulham
quando o mar
está pra peixe

teu corpo
não merece
os dentes
de tubarões famintos

tua carne
é hóstia
para outras missas

o teu sangue
vinho
para outros
dentes


artur gomes
marca registrada – poema de Artur Gomes
musicado e cantado por Luiz Ribeiro