terça-feira, 19 de março de 2013

Karla Julia - Lua Nova




Primeiro Vídeo da Oficina de Poesia Falada, realizada de 4 a 9 de março com Karla Julia interpretando Lua Nova, poema do seu livro Alma Nua - Direção: Artur Gomes


Lua Nova

Nas noites em que custo a dormir,
escrevo, en-lou-que-ci-da-men-te.
E com meu anjo, crio pontes
através de meus poemas.

Não nos falamos, nossa voz corre em versos,
que se espalham através de nossa corrente sanguínea.
Junto a ele, emigrantes viramos, 
mal quero saber para onde vamos,
mas os deuses, que tudo nos contam, nos disseram...
nossas almas...são macho e fêmea.

Ele, que reza junto comigo, 
não se converteu.
Eu, que peço por ele, 
jurei por todos os séculos e séculos,
amém.
Bem sei que nunca teremos nosso réquiem.

Gosto disso... nossa poética é oculta.

Karla Julia
poema do livro – Alma Nua

segunda-feira, 18 de março de 2013

A Flauta e a Vértebra




A FLAUTA VÉRTEBRA

A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.

http://www.culturapara.art.br/opoema/maiakovski/maiakovski.htm
(tradução: Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman)

o mal estar da civilização




o mal estar da civilização

quanto mais me rejeitam  mais vivo
arte não é lazer entretenimento
arte é incomodAção

tenho o olho no obsceno
no sexo no trágico
no olho do furacão

na planície no planalto no cerrado
no mal estar da civilização

faço o que freud disse
abstrato muitas vezes concreto
não faço poema fino
só duro bem grosso e reto




canibal antropofágico

lírico ou trágico
em botafogo todo jogo eu topo
a mina trampa quando trapa
eu ouço o rappa
e me aposso da cidade como posso

tenho sangue goytacá não carioca
canibal antropofágico
gosto de tua frente
e muito mais das tuas costas

não gosto de gato por lebre
mas sei também que tem quem gosta




poética 53

haveria outra forma de amar-te
arte e paixão tamanha
que entra nas entranhas
quando roça a carne
na pele dessa tela
e vem como quem se deita
e dorme com um poema ereto
entre o vão das coxas


artur gomes

sexta-feira, 15 de março de 2013

Sarau no Sonnetto, ano 2




SARAU NO SONETTO - ANO 2!!
SÁBADO 23 DE MARÇO AS 17H - SARAU NO SONETTO DE VOLTA!!!
Uma homenagem às mulheres com muita poesia e música!


Jura Secreta 18

te beijo vestida de nua
somente a lua te espelha
nesta lagoa vermelha
porto alegre caís do porto
barcos navios no teu corpo
peixes brincam no teu cio
nus teus seios minhas mãos
as rendas íntimas que vestias
sobre os teus pelos ficção

todos os laços dos tecidos
e aquela cor do teu vestido
a pura pele agora é roupa
e o sabor da tua língua
e o baton da tua boca
tudo antes só promessa
agora hóstia entre os meus dentes

e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa


Artur Gomes

segunda-feira, 11 de março de 2013

a flauta e a vértebra






A FLAUTA VÉRTEBRA


A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História. 
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.

(tradução: Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman)

segunda-feira, 4 de março de 2013

A Arte é o que resiste


 poesia visual fátima queiroz


A Arte é o Que Resiste.

Ela Resiste à Morte a Servidão e A Vergonha.
Gilles Deleuze


Ainda vai levar um bom tempo  para a humanidade compreender Arte e se beneficiar dela.  Alguns comentários que leio sobre o assunto me aterrorizam, principalmente por saber que no Brasil professores do ramo ainda se perguntam O Que é Arte? E pensam que uma simples ilustração seja Poesia Visual. E o que é mais aterrorizante é saber que em Escolas Municipais, Estaduais e Federais, professores são obrigados a darem notas para estudantes passarem de ano sem o cumprimento das mínimas exigências da LDB, contribuindo  dessa forma para a perpetuação desse Estado de Ignorância.


Federico Baudelaire

sexta-feira, 1 de março de 2013

Desordem



meu assunto por enquanto é a desordem
o que se nega
à fala

o que escapa
ao acurado apuro
do dizer
a borra
a sobra
a escória
a incúria
o não caber

ou talvez
- pior dizendo –
o que a linguagem
não disse
por não dizer

porque
por mais que diga
e porque disse
sempre restará
no dito o mundo
o por dizer
já que não é da linguagem
dizer tudo

ou é
se se
entender
que
o que foi dito
é o que é
e por isso
nada há mais por dizer

portanto
o meu assunto
é o não dito não
o sublime indizível
mas o fortuito
e possível
de ser dito
e não o é
por descuido
ou por intuito
já que somente a própria coisa
se diz toda
( por ser muda)

é próprio da palavra
não dizer
ou
melhor dizendo
só dizer
a palavra
é o não ser

isto porque
a coisa
( o ser)
repousa
fora de toda
fala
ou ordem sintática

e o dito (a
não coisa) é só
gramática

o jasmim, por exemplo,
é um sistema
como a aranha
( diferente do poema )
o perfume
é um tipo de desordem
a que o olfato
põe ordem
e sorve
mas o que ele diz
excede à ordem
do falar
por isso
que

desordenando
a escrita
talvez se diga
aquela perfunctória
ordem
inaudita

uma pera
também
funciona
como máquina
viva
enquanto quando
podre
entra ela ( o sistema)
em desordem:
instala-se a anarquia
dos ácidos
e a polpa se desfaz
em tumulto
e diz
assim
bem mais do que dizia
ao extravasar
o dizer

dir-se-ia
então
que
para dizer
a desordem
da fruta
teria a fala
- como a pera –
que se desfazer?
que de certo
modo
apodrecer?

mas a fala
é só rumor
e ideia
não exala
odor
( como a pera )
pela casa inteira

a fala, meu amor,
não fede
nem cheira


GULLAR,Ferreira, 1930 - "DESORDEM". In: Alguma parte alguma/ ; Apresentação Alfredo Bosi e Antonio Carlos Secchin. 2.Ed. - Rio de Janeiro: José Olympio,2010.p.p. 26, 27, 28, 29, 30