quarta-feira, 27 de novembro de 2013

por onde passeio minha língua

Flávia D´Angelo musa da minha cannon



por onde passeio minha língua
para Flavia D'Angelo

tenho ainda tuas unhas
mesmo não estando 
entre meus dedos
e no estado em que me encontro
mar é corpo palavra/carne
tua língua meu brinquedo

não creio amor sem isso
nem entanto aquilo outro
pouco entendo do espírito
mas o meu inda é de
porco

se nunca estive
agora estando
é que absinto não me cura

se o seguro porto
é que procura
pode tentar o outro lado
que o meu

sou muito mais o lança/chama
pra incendiar os teus navios
muito além dos temporais
acender língua de fogo
como um danado cão vadio
farejando as altas ondas
deste terrível mar bravio

como se sabe ou como soube
amor não cabe em calmaria
em outro nome nunca coube
e nem atlântico caberia
quero beijar teu mar de buzios
e até teus seios comeria
ao mergulhar por entre as coxas
beber teu mel na maresia


Artur Gomes 

www.artur-gomes.blogspot.com






preciso abraço amigo, 

fuga do mundo
olhar que me visto, 
carinho inteiro
de sobras não vivo,
amor dividido
no meio receios
carente menina
não supre mulher
desprezo desejo
fútil artificio
no sono escondo
palavra que falha
vivendo vazio
escondo o medo, 
carente implora
aplausos escusos
no meio de tudo
a sobra do nada
vieste pro mundo







PELE

desfaço pedaços
escuro me traça
desejo sacio
linhas em curvas
de dedos em nuca
mulher que me visto
no sexo fugaz
mergulho na noite
orgulho banido
desprezo sentir
ateio o vício
me despe receio 
entrega contida
de santa bandida
chegando sem medo
resposta no corpo
na entrega insisto
pudor não anseio...


calo os monstros que assolaram entranhas num tempo que urgia de perigo o corpo. aborto contente pedaços doentes que não me cabem mais. renasço das trevas do espelho que chuta na face verdade oculta. mudo na força da pedra que cai de realidade vazia. fraca me julgo por me permitir assim. junto pedaços e me faço de novo a mulher que julgo ser...e serei.


Flávia D´Angelo
www.poebrasoficial.blogspot.com






proponho aqui
a poesia/verso
que seja prosa
argamassa/concreta
sendo abstrata
muito mais 
que pensamento
abisinto tudo
que a Arte implora
bem maior que InVento


arturgomes







jurra secreta 129

tenho em mim
que amor não sangra
apenas angra
quando o mar não está pra peixe

tenho um feixe de amor guardado

quando penso
me dá um tremor
da língua
as solas dos sapatos
só a duna do vapor
é capaz de compreender os meus baratos

trago em mim tuas unhas
mesmo nunca estando
entre meus dedos

se nunca estive te procurando
como agora estando
absinto não me cura

não pense metáforas a parte
juras secretas poéticas fulinaímicas
o que te tenho é carNAvalha
língua
que em teu corpo se espalha

como na avenida o samba-enredo


Artur Gomes









sexta-feira, 22 de novembro de 2013

alguma poesia


Fernanda Dias na Oficina de Poesia Falada 
 e Produção de Vídeo em Pedra Dourada-MG

alguma poesia 


 não. não bastaria a poesia deste bonde
que despenca lua nos meus cílios
num trapézio de pingentes onde a lapa
carregada de pivetes nos seus arcos
ferindo a fria noite como um tapa
vai fazendo amor por entre os trilhos.
não. não bastaria a poesia cristalina
se rasgando o corpo estão muitas meninas
tentando a sorte em cada porta de metrô.
e nós poetas desvendando palavrinhas
vamos dançando uma vertigem
no tal circo voador.

não. não bastaria todo riso pelas praças
nem o amor que os pombos tecem pelos milhos
com os pardais despedaçando nas vidraças
e as mulheres cuidando dos seus filhos.

não bastaria delirar Copacabana
e esta coisa de sal que não me engana
a lua na carne navalhando um charme gay
e uma cheiro de fêmea no ar devorador
aparentando realismo hiper moderno,
num corpo de anjo que não foi meu deus quem fez
esse gosto de coisa do inferno
como provar do amor no posto seis
numa cósmica e profana poesia
entre as pedras e o mar do Arpoador
uma mistura de feitiço e fantasia
em altas ondas de mistérios que são vossos

não. não bastaria toda poesia
que eu trago em minha alma um tanto porca,
este postal com uma imagem meio Lorca:
um bondinho aterrizando lá na Urca
e esta cidade deitando água
em meus destroços
pois se o cristo redentor  deixasse a pedra
na certa nunca mais rezaria padre-nossos
e na certa só faria poesia com os meus ossos.

Artur Gomes
In Couro Cru & Carne Viva
Prêmio Internacional de Poesia - Quebec - Canadá 1987
fulinaimicamente – neste vídeo com imagens captadas durante a Rio + 20 tem o poema acima interpretado pelo seu autor – Artur Gomes




Identidades
“com meus sonhos de menina”
Triste Sina, Jerónimo Bragança/Nóbrega e Souza

quinze anos e dúvidas
(para além das usuais)
a menina
com duas mães, cresceu
biológica, uma
(que a gerou, pariu e amamentou)
companheira da mãe, a outra

a mãe que a gerou, pariu e amamentou
mudou de gênero e identidade. a
menina passou a chamá-la de pai
(volta e meia, ainda lhe escapa um
mâeeeê!)

Dalila Teles Veras
no livro: estranhas formas de vida








ONIPRESENÇA

Aristóteles na Poética
abordou somente a técnica;
no mundo grego, contudo,
a poesis era tudo,
era o próprio movimento:
terra, fogo, água e vento, 
era a vida, as estações,
as marés, as emoções,
a dor, a cura, o remédio
a luta, os louros, o tédio, 
a pólis, a dança, o mito, 
os templos, o vinho, os ritos,
kairós, oportunidade,
destino, fatalidade,
o luto, a luta, a tragédia,
o riso, a festa, a comédia,
a química, a teologia,
a física, a filosofia,
ethos e cidadania,
o ciclo: a própria mudança
que retrocede e que avança.

Penso igual meus ancestrais
(pelo ramo do meu pai):
poesia é tudo o que há,
pra mim ela em tudo está
– desde as larvas mais estranhas
à fé que move montanhas.

Leila Míccolis




Tributo a Alberta Hunter

você cruzou o século vinte
longevalegremente
em estado de garça.
conheceu a injustiça,
o lodo, a lágrima,
como todos da nossa raça.
e no entanto você era o canto,
a essência do triunfo.
milênios de beleza
encontraram em sua voz
a vitalidade da fé –
africalegremente oculta
no élan dos ritos,
nas figas de marfim,
nas pérolas de búzios
e no blues.
você atravessou o século vinte
uivando para o céu
até a última letra da alegria,
a última sílaba
da palavra amor;
conheceu os porões da América
e seu coração atômico.

e no entanto você se integrou
ao ar real
se eternizando no cosmos
com a alma das flores e das pedras.

Salgado Maranhão
Do livro: A Cor da Palavra
Prêmio da Academia Brasileira de Letras - 2011


may pasquetti musadaminhacannon




fulinaimagem

1

por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e a minha língua fosse
só furor dos canibais
e essa lua mansa fosse faca
a afiar os verso que ainda não fiz
e as brigas de amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto
que a argamassa do abstrato

por enquanto
vou te amar assim admirando o teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos

2

o que trago embaixo as solas dos sapatos
bagana acesa sobra o cigarro é sarro
dentro do carro
ainda ouço jimmi hendrix quando quero
dancei bolero sampleando rock and roll
pra colher lírios há que se por o pé na lama
a seda pura foto síntese do papel
tem flor de lótus nos bordéis copacabana
procuro um mix da guitarra de santana
com os espinhos da rosa de Noel

artur gomes
Poesia do Brasil - Vol. 15
Editora Grafite – XX Congresso Brasileiro de Poesia
Bento Gonçalves-RS – outubro 2012

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

retalhos imortais do SerAfim




quando caí da rede
vi que eu existia mesmo
minha mãe apareceu no umbral da porta
logo, meu pai, nu, nasceu de uma sombra e a puxou
ele queria terminar de foder com ela, e
parece que comigo também
os dois, silenciosamente, desapareceram na sombra
vi que eu não existia mesmo
quando caí da rede.


Reynaldo Bessa
Do Livro Outros Barulhos
Prêmio Jabuti – 2009






chacina never stops

troia destruída, restam-nos
as ruínas de Bagdá, chuva de mísseis,
capacetes made in united states
of américa, mãos decepadas e olhares
que ainda miram lugar nenhum, talvez
a névoa sob um céu de escombros,
picotada por rajadas de fuzis fabricados
numa pacata cidadezinha do texas,
moloch esculpido na retina intacta, dervixe
do terror com os olhos vazados, crucifixos
radiativos lançados sobre o cabul
por um helicóptero ianque, pearl jam,
iron maden e nirvana a todo volume
no headphone do soldado imberbe, casas
incineradas, embaixadas fumegando,
sonhos da noite passada retalhados
antes que a luz do sol pudesse
iluminar o caminho de volta, o retorno
a uma ítaca estampada nas páginas
de um gibi amarelado, ou de um jornal
que embrulha o peixe na feira, ante
o espanto da velhinha aposentada
que sempre reclama da alta dos preços

Ademir Assunção
Do livro A Voz do Ventríloquo
Prêmio Jabuti – 2013




Predicado do Sujeito

tem que haver uma mudança
na gramática,
uma mudança substancial,
que não é direito
um verbo irregular
passar a ser sujeito no plural.
deve haver um jeito
de romper os elos anormais
entre o agente da passiva
e as conjunções causais.
deve haver uma conjugação geral
de todo o pessoal interessado
na situação
da posição dos verbos na oração.
que não é direito
um verbo no passado ser sujeito.
não duvido até que possa haver
uma manifestação total
dos verbos regulares,
visando a uma transformação gramatical
no futuro do presente tempo estado,
que não é normal
um sujeito só com tantos predicados.

Salgado Maranhão
Do livro A Cor da Palavra
Prêmio da  Academia Brasileira de Letras – 2011

Aline de Oliveira na Oficina de Poesia e 
Produção de Vídeo em Sacramento - Manhuaçu-MG



antropofágica 2

na coluna vertebral dos teus martírios
meus poemas instalam seus mistérios
tudo silêncio
tudo farra
tudo festa
ela tem no umbigo um formigueiro
leoa presa na jaula
seu tempo é todo  aulas
jung, freud, deleuze
análise quântica dos nervos
semântica física dos ossos
sob o vestido branco de rendas
penso teus dedos de sedas
tocando o bico dos seios
quando tens a carne exposta
e as frutas da santa ceia
coloco na mesa posta

artur gomes


Fernanda Dias na Oficina de Poesia e 
Produção de Vídeo em Pdera Dourada -MG


Tropicalirismo


girasóis
 pousando
- NU – teu corpo festa
 beija-flor seresta
 poesia fosse
esse sol que emana
do teu fogo farto
 lambuzando a uva
de saliva doce
Artur Gomes 



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

gomes & gumes

fotos: Aline de Oliveira na Oficina de Poesia e Produção
 de Vídeo em Sacramento - Manhuaçu-MG com  


Gomes & Gumes 


todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes
de um eu não digo os nomes da outra não mostro os lumes
se um corta com palavras a outra com corte mesmo
se um é produto da fala a outra do ódio a esmo
todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes
e um amor cego nas asas brilhante de vagalumes
se em um a linguagem é sacana
na outra o corte é estrume
todo poema tem dois gomes toda faca tem dois gumes
se em um peixe é palavra na outra o brilho é cardume
é fio estrela na lavra mal cheiro vício costume
de um eu não digo os nomes da outra não mostro os lumes
se em um a coisa é sagrada ofício provindo das vísceras
na outra a fé é lacrada hóstia servida nas missas
se em um é cebola cortada aroma palavra carniça
na outra o ferro, é tempero fé cega - fome amolada
– poema é só desespero

Artur Gomes
www.arturgomes.blogspot.com
in 20 Poemas om Gosto de JardiNÓpolis & Uma Canção Com Sabor de Campos 






SampleAndo

o poema pode ser um beijo em tua boca

carne de maçã em maio
um tiro oculto sob o céu aberto
estrelas de néon em vênus
refletindo pregos no meu peito em cruz
na paulista consolação da na água branca barra funda

metal de prata desta lua que me inunda
num beijo sujo como a estação da luz
nos vídeosfilmes de TV eu quero um clip

em tuas coxas japa
uma cilada nos teus seios quentes
como uma flecha em tuas costas índia
ninja, gueixa eu quero a rota teu país ou mapa
teu território devastar inteiro
como uma vela ao mar de fevereiro
molhar teu cio e me esquecer na lapa

Artur Gomes
www.pelegrafia.blogspot.com









Desdita

chegaram
de grito em punho
- incisivos -
fraturando o silêncio.

falaram que os companheiros
comiam do mesmo grude,
lambiam a caçarola
cheirando a sexo de esmola,
tremiam no mesmo frio
da mesma noite assassina,
gemiam no mesmo açoite
da mesma nau da chacina;
disseram que um companheiro
esfaqueou o amigo do peito
e foi lavar as mãos
no botequim da esquina.

mas não vou cantar desditas
de crimes passionais,
eu cá por dentro de mim
já trago umador tão grande
que não nem cabe nos jornais.

Salgado Maranhão
do Livro A Cor da Palavra

Prêmio da Academia Brasileira de Letras - 2011





may pasquetti musadaminhacanon



Galope


com espada
em riste
galopamos
pradarias
e lutamos
ferozmente
por dois segundos
e meio
tua fúria era louca
que agarrei-me
em tuas crinas
pra não cair na lama
mas o amor era tanto
e tanto era o prazer
que quando fomos pra cama
não tinha mais o que fazer.

Artur Gomes
IN Suor &  Cio