sábado, 11 de dezembro de 2010

Porque hoje é sábado

agora não se fala nada
agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e tudo é transparente em cada forma

você não precisa me dizer
o número do mundo desse mundo
nem precisa me mostrar a outra face
face ao fim de tudo

só precisa me dizer
o nome da república dos fundos
o sim do fim
e o tem do tempo vindo


Dia D

Dede que eu saí de casa
trouxe a viagem de volta
cravada na minha mão
interrada no meu umbigo
dentro fora assim comigo
minha própria condução

todo dia é dia dela
pode ser pode não ser
abro a porta ou a janela
todo dia é dia D

há urubus nos telhados
a carne seca é servida
um escorpião encravado
na sua própria ferida
não escapa
só escapo pela porta de saída

todo dia mais um dia
de amar-te a morte morrer
todo do mais um dia
menos dia dia D

torquato neto


Quartas Culturais - Cantinho do Poeta
Rua Cardoso de Melo, 42
Campos dos Goytacazes-RJ
Leia mais aqui http://artur-gomes.blogspot.com


Porrada llírica



Dia 15 dezembro 2010 – 21:00hs
Mas Sarau o Benedito
Uma homenagem a Elis Regina
Direção: Aucilene Freitas

Fulinaimagem


1

por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e a minha língua fosse
só furor dos canibais

e essa lua mansa fosse faca
a afiar os versos que inda não fiz
e as brigas dde amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto que a argamassa do abstrato

por enquanto
vou te amar assim adimirando o teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos

arturgomes
http://goytacity.blogspot.com

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

DA TRANSPARÊNCIA DOS CRISTAIS

DA TRANSPARÊNCIA DOS CRISTAIS

A moça
no caixa do supermercado
me diz boa noite
pergunta se quero o cpf
na nota fiscal
e me atira
um sorriso maquinal
que expressa tanta vida
quanto a que está contida
numa caixa de cereal.

A moça
no caixa do supermercado
usa óculos
tem o olhar cansado
e aparenta impaciência
diante da menina
de cabelo cacheado
que choraminga
por um pacote de bombom
diante da mãe que esbraveja
enquanto segura
quatro latas de cerveja.

A
moça no caixa do supermercado
é jovem e bonita
uma beleza modelada lentamente
dir-se-ia
até sorrateiramente
com o barro da desilusão
no rosto dos que fizeram
do próprio coração
monumento e mausoléu
da resignação.

São quase dez horas
e nesta noite de novembro
ela talvez pense
no namorado
nas contas a pagar
no ônibus lotado
em sua volta para o lar.

Mesmo jovem
ela talvez já saiba
que o mundo
trai mais que abriga.
O que ela
com certeza não sabe
é que talvez neste instante
poetas discutem o futuro da poesia
arqueologizam
a concisão dos haicais
mensuram
a transparência dos cristais
enquanto
em outros quintais
a pobreza cala a boca
de reles mortais.

Fernando Freire
Gama, 04.12.2010





tão pimenta tão petróleo

não espere que eu fale só de estrelas
ou do vinho feliz que não tomei
porque fora de mim
não levo além da sombra
uma camisa velha
e dentro do peito um balde de canções
uma gota de amor
no útero de uma abelha

não repare se eu não frequento clube
dos que sugam o sangue das ovelhas
ou amargam o mel dessa colméia
é que eu já vivo tão pimenta e tão petróleo
que se você acende os olhos me incendeia

hoje em dia pra gente amar devera
é preciso ser quase um alquimista
ou talvez o maquinista
do trem da consciência
pra te amar com tanta calma
e com tanta violência
que a tua alma fique toda ensanguentada de vivência

salgado maranhão

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Cantinho do Poeta Quartas Culturais


Pontal


Dia 1 dezembro 21 horas
Encenação teatral com poemas de
Aluysio Abreu Barbosa, Adriana Medeiros,
Antônio Roberto(Kapi) e Artur Gomes.
com Artur Gomes, Yvi Carvalho e Sidney Navarro

Direção: Kapi
Local: Cantinho do Poeta
Rua Cardoso de Melo, 42 – Campos dos Goytacazes-RJ

a flor da pele – pontal foto grafia


tucanos querem você fora da internet
leia aqui
texto contundente de Laerte Braga
sobre segurança pública no Rio
leia aqui:



Pontal Foto.Grafia

Aqui,
redes em pânico
pescam esqueletos no mar
esquadras – descobrimento
espinhas de peixe convento
cabrálias esperas relento
escamas secas no prato
e um cheiro podre no
AR

caranguejos explodem mangues em pólvora
Ovo de Colombo quebrado
areia branca inferno livre
Rimbaud - África virgem –
carne na cruz dos escombros
trapos balançam varais
telhados bóiam nas ondas
tijolos afundando náufragos
último suspiro da bomba
na boca incerta da barra
esgoto fétido do mundo
grafando lentes na marra
imagens daqui saqueadas
Jerusalém pagã visitada
Atafona.Pontal.Grussaí
as crianças são testemunhas:
Jesus Cristo não passou por aqui

Miles Davis fisgou na agulha
Oscar no foco de palha
cobra de vidro sangue na fagulha
carne de peixe maracangalha
que mar eu bebo na telha
que a minha língua não tralha?
penúltima dose de pólvora
palmeira subindo a maralha
punhal trincheira na trilha
cortando o pano a navalha
fatal daqui Pernambuco
Atafona.Pontal.Grussaí
as crianças são testemunhas:
Mallarmè passou por aqui

bebo teu fato em fogo
punhal na ova do bar
palhoças ao sol fevereiro
aluga-se teu brejo no mar
o preço nem Deus nem sabre
sementes de bagre no porto
a porca no sujo quintal
plástico de lixo nos mangues
que mar eu bebo afinal?

arturgomes
leia mais aqui http://palavras-diversas.blogspot.com

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

queimando em mar de fogo

rio das ostras - foto: artur gomes




"É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência".

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O poeta pede a seu amor que lhe escreva


may com fome de livros - foto: artur gomes



http://www.youtube.com/watch?v=0xcfuTJ4I3U
Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

Garcia Lorca.

cinema

barra de são joão - foto: artur gomes





para Roberta Von Doelinger

elegante
o dia des
luz-se
apesar
da chuva
a regurgitar
incertezas
nos telhados
apesar da água
a roer os passos
nas calçadas

automóveis passam
motos passam
pessoas passam
a vida
...

parabólicas
postes pequenos pássaros
velam o dia
que zarpa
a sombra
que aporta
e nos umbrais
de tantas portas
em silêncio
a solidão apodrece
sob o capacho

Fernando Freire
Caldas Novas, 20.11.2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

sarau palavras diversas

Dia 24 novembro 21:00h
Local: Cantinho do Poeta
Campos dos Goytacazes-RJ

O que a grande mídia não.diz
Leia aqui http://goytacity.blogspot.com

Airton Ortiz fala sobre Havana
Aqui http://artur-gomes.blogspot.com

Quando você for embora


vídeo com Artur Gomes interpretando poemas de
Ferreira Gullar na abertura do XVIII Congresso
Brasileiro de Poesia em Bento Gonçalves


tropicalirismo

girassóis pousando
nu teu corpo
festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
do teu fogo farto
lambuzando a uva
de saliva doce

arturgomes
http://pelegrafia.blogspot.com

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Biafra hoje no Sesc Campos







Café Literário – Dia 14 às 18:00h
Bienal do Livro de Campos
Artur Gomes e Fabrício Carpinejar
Mediador: Dedé Muylaert
Leia mais aqui: http://artur-gomes.blogspot.com/



Isadora

onde teus pés bailarina dançam
cato os vestígios do tempo
onde teus olhos bailarina olham
um gato passeia no teu colo
e na vidraça o giz derrama poesia
escritas com punhos de ontem
em tua cidade de serras

onde teus braços bailarina
sustentam tuas mãos
que colhem uvas
coloco águas de chuva
para que teus vinhedos não cessem
esteja sempre em meus caminhos
e deles brotem da flor o fruto sagrado
e os teus segredos guardados
entre os teus lábios de vinho

arturgomes
http://musadaminhacannon.blogspot.com/

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ESTÁTUA POLÍTICA

E a estátua
pálida
e a estátua
estática
e a estátua
polêmica
e a estátua
bêbada
e a estátua
cética
e a estátua
ética
e a estátua
pública
e a estátua
trêmula
e a estátua
vítima
e a estátua
de repente
nem se movia
e ria
do povo que passava
e a estátua
política
nem se mexia

(Renato Gusmão)


dos que predam e dos que são predados

ele
me pediu cinqüenta centavos
eu
dei a ele dois reais
quando lhe estendi a mão
sorriu um sorriso cariado
de submissão
ele
me reconheceu
eu
o reconheci
há cinco anos atrás
aluno da 4ª. série
cumprindo medida
sócio
educativa
quando conversava
mantinha a cabeça baixa
a voz num sussuro
quinze anos
e quase analfabeto
quase menino
quase homem
quase gente
Quasímodo

eu
e ele
havíamos mudado
o mesmo rio do tempo
havia nos banhado
nos envolvido
e transformado
e ao nosso redor
todos dormiam
o sono de Caim
e espinhos devoravam
as pétalas do jardim

nenhum solo de Coltrane
ou rima do Facção Central
serviria como trilha sonora
para o Desencanto
daquela hora
daquele instante
em que a esperança
se tornou figurante

não era a Pedra
no caminho de Drummond
não era o Bicho
de Bandeira
era a miséria
tremulando sua bandeira
era uma vida
que descia na ladeira
e falava comigo
me afastando
de meu umbigo

Fernando Freire

terça-feira, 2 de novembro de 2010

onde estará você agora






Jura secreta 122

esse poema não secreto
muito menos sagrado
mesmo se jura fosse
entre a face de fogo
e os teus olhos beatriz
por onde leio teu livro
no sangue da tua face
a flor na pele de seda
em fragmentos de Dante
as letras sobre o papel
e teus poemas transbordam
rios entrando meus poros
por toda língua delírios
extravasa irrompe penetra

esse poema não secreto
feito em teus olhos beatriz
tensão dos músculos
cravados sobre a palavra
onde pulsa, a cada lavra
a tua coisa mais plena
e esta jura serena
como uma missa profana
e os cabelos da noite cigana
o canto do amor entre a boca
e o mar que em teus seios agita
a febre que queima em meus dedos
e na boca o teu nome palpita


tropicalirismo

girassóis pousando
nu teu corpo
festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
do teu fogo farto
lambuzando a uva
de saliva doce

arturgomes
http://artur-gomes.blogspot.com/


domingo, 31 de outubro de 2010

o que a grande mídia não diz

pintura: alcinéia marcucci

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As flores do bem-me-quer

gaivotas perseguem peixes
quando estão com fome
a musa da minha janela
depois da prova de física
desfolha Charles Baudelaire

tem um jardim imaginário
no quintal desta metáfora
e um mar de algaravias
dentro dos olhos dela

percebo a flor da infância
bem-me-quer em teu cabelos
peixes que não são nuvens
girassóis fosse miragens
na veia algas marítimas
e uma fração logarítima
ainda por resolver

arturgomes

http://pelegrafia.blogspot.com/


Palavras Diversas

a palavra múltipla plural e solta
pelos céus da boca
sarcástica cínica amorosa
de drummond a guimarães rosa
de ferreira gullar a torquato neto
a pala/lavra do leminski
como um arquiteto
que constrói a própria casa
com o furor do fogo em brasa
com cimento tijolo argamassa
e que a massa compreenda
que a massa que transforma o pão
é a mesma que alimenta a massa
que o homem arquiteta
e a praça é o lugar pro seu delírio
a lira que mora dentro do poeta


jura secreta 121

ela me mantém
à distância dos meus braços
que mesmo esticados
não conseguem alcançá-la
no quarto do hotel eu tenho a fala
e digo
desejo o espaço do teu ventre
para proclamar os meus instintos
não minto
eu sinto
muito
que pena
se ainda não conseque
provar dos meus pecados
e se esconde entre hóstia e promessas
eu tenho pressa
quero engravidar-te de saliva
na língua
que escorre pelos anos
abrindo fenda em tuas costas

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arturgomes

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

palavras diversas






XVIII CONGRESSO BRASILEIRO
DE POESIA HOMENAGEIA
FERREIRA GULLAR

Pela primeira vez nos últimos quinze anos
o Congresso Brasileiro de Poesia
não é realizado na primeira semana
de outubro e sim, no final do mês.
A edição deste ano acontece de 25 a 29,
na cidade de Bento Gonçalves e
homenageará os 80 anos de Ferreira Gullar.

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Esfinge


As flores do bem-me-quer

gaivotas perseguem peixes
quando estão com fome
a musa da minha janela
depois da prova de física
desfolha Charles Baudelaire

tem um jardim imaginário
no quintal desta metáfora
e um mar de algaravias
dentro dos olhos dela

percebo a flor da infância
bem-me-quer em teu cabelos
peixes que não são nuvens
girassóis fosse miragens
na veia algas marítimas
e uma fração logarítima
ainda por resolver

arturgomes
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Palavras Diversas

Artur Gomes e Mayara Pasquetti estão completando 4 anos de parcerias no palco, estreaiaram em 2006 em Bento Gonçalves, com um recital em homenagem ao centenário do porta gaúcho Mário Quintana. Este ano lá mesmo na serra gaúcha na capital nacional do vinho, durante a programação do XIII Congresso Brasileiro de Poesia, eles estarão mais uma vez dialogando poeticamente com o recital Palavras Diversas, que além da poesia do prório Artur, a dupla faz uma viagem pela poesia de Arnaldo Antunes, Eliakin Rufino, Mário Faustino, Ferreirta Gullar e Torquato Neto.

Se for Poema Fogo do Desejo, neste vídeo filmado por Jiddu Saldanha, eles estão no Parque das Ruínas em Santa Teresa Rio de Janeiro fazendo o que mais gostam: falando peosia.

segue abaixo alguns dos poemas que fazem parte do repertório do Recital Diversas Palavras:

NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão. O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos. Como não cabem no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores está fechado: “não há vagas”

Só cabem no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço

O poema senhores, não fede nem cheira

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. uma parte de mim é multidão:outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte,l inguagem. Traduzir-se uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte -será arte?

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora, moça branca como a neve, me leve. Se acaso você não possa me carregar pela mão, menina branca de neve, me leve no coração. Se no coração não possa por acaso me levar, moça de sonho e de neve, me leve no seu lembrar. E se aí também não possa por tanta coisa que leve já viva em seu pensamento, menina branca de neve, me leve no esquecimento.

Ferreira Gullar



O mundo que venci deu-me um amor

O mundo que venci deu-me um amor,
Um troféu perigoso, este cavalo
Carregado de infantes couraçados.

O mundo que venci deu-me um amor
Alado galopando em céus irados,
Por cima de qualquer muro de credo,
Por cima de qualquer fosso de sexo.

O mundo que venci deu-me um amor
Amor feito de insulto e pranto e riso,
Amor que força as portas dos infernos,
Amor que galga o cume ao paraíso.

Amor que dorme e treme. Que desperta
E torna contra mim, e me devora
E me rumina em campos de vitória...

Mário Faustino(1930-1962)



ditados populares

sem essa de dizer que a pressa
é inimiga da perfeição
eu sou amigo da pressa
perfeição não me interessa
não me interessa não

o que é perfeito está morto
eu quero o falho o feio o torto
quero os pecados da alma
e as imperfeições do corpo

se a pressa é inimiga da perfeição
e é amiga da mudança
irmã da revolução

boca fechada não entra mosca
mas também não sai palavras
que cala consente quem sente fala

o silêncio pode ser uma kaula
é preciso estar atento
é preciso ter cuidado
uma coisa é ser silêncio
outra é ser silenciado

lei do silêncio não faz sentido
o mundo sem palavas sé quadrado
lei do silêncio não faz meu tipo
o meu estilo é ser articulado

Eliakin Rufino

Boa Vista - Roraima - RO



Um instante

Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei
à luz presente
sou apenas
um bicho
transparente

____________________
Aprendizado

Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta. _______________________________

ferreira gullar


Socorro alguma alma
mesmo que penada,
me empreste suas penas,
já não sinto amor nem dor,
já não sinto nada.

Socorro alguém me dê um coração,
que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa que se sinta
Tem tanto sentimento
deve ter algum que sirva...


As coisas têm peso,
massa, volume, tamanho,
tempo, forma, cor, posição, t
extura, dura-
ção, densidade, cheiro,
valor, consistência, pro-
fundidade, contorno,
temperatura, função, aparência,
preço, destino, idade, sentido.
As coisas não têm paz.


Iluminuras

Pensamento vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.

Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?

Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com o seu fermento;

pensamento dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.

E não jogarei sementes
em cima do seu cimento. *


O amor. sem palavras.
Ou. A palavra amor, sem amor.
Sendo amor, ou. A palavra ou.
Sem substituir nem ser substituída por.
Si, a palavra si, sem ser designada
ou gnificada por.
O amor. Entre si e o que se. Chama amor,
como se. Amasse
(esse pedaço de papel escrito amor).
Somasse o amor ao nome amor,
onde ecoa.
O mar, onde some o mar onde soa.
A palavra amor, sem palavras.

arnaldo antunes



Marginália II

Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu pecado
Meu sonho desesperado
Meu bem guardado segredo
Minha aflição
Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu degredo
Pão seco de cada dia
Tropical melancolia
Negra solidão

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Aqui, o Terceiro Mundo
Pede a bênção e vai dormir
Entre cascatas, palmeiras
Araçás e bananeiras
Ao canto da juriti

Aqui, meu pânico e glória
Aqui, meu laço e cadeia
Conheço bem minha história
Começa na lua cheia
E termina antes do fim

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Minha terra tem palmeiras
Onde sopra o vento forte
Da fome, do medo e muito
Principalmente da morte Olelê, lalá

A bomba explode lá fora
E agora, o que vou temer?
Oh, yes, nós temos banana
Até pra dar e vender Olelê, lalá

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo


Let's play that

quando eu nasciu
m anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinaro coro dos contentes
vai bicho desafinaro coro dos contentes

let's play that



dessde que eu saí de casa
triuxe a viagem na mão
cravada no meu umbigo
dentro fora assim comigo
minha prórpria condução

todo dia é dia dela
pode ser pode não ser
abro a porta ou a janela
todo dia é diaa D

há urubus no telhado
a carne seca é servida
um escorpião encravado
na sua própria ferida
não escapa
só escapo pela porta de saída

todo dia o mesmo dia
de amar-te a morte morrrer
todo dia mais um dia
menis dia dia D

torquato neto




segunda-feira, 27 de setembro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

sampleAndo

SampleAndo



por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e a minha língua fosse
só furor dos canibais

e essa lua mansa fosse faca
a afiar os versos que inda não fiz
e as brigas dde amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto que a argamassa do abstrato

por enquanto
vou te amar assim adirando o teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos

2

o que trago embaixo as solas dos sapatos
é fato. bagana acesa sobra do cigarro
é sarro. dentro do carro
ainda ouço Jimmi Hendrix quando quero
dancei bolero sampleando rock and roll

pra colher lírios
há que se por o pé na lama
a seda pura foto-síntese do papel
tem flor de lótus
nos bordéis Copacabana
procuro um mix da guitarra de Santanna
com os espinhos da Rosa de Noel.

arturgomes
http://blogdabocadoinferno.blogspot.com/



Fulinaimagem


Isdora

onde teus pés bailarina dançam
cato os vestígios do tempo
onde teus olhos bailarina olham
um gato passeia no teu colo
e na vidraça o giz derrama poesia
escritas com punhos de ontem
em tua cidade de serras
onde teus braços bailarina
sustentam tuas mãos que colhem uvas
coloco águas de chuva
para que teus vinhedos não cessem
e deles brotem a flor o fruto sagrado
e os teus segredos guardados
entre os teus lábios de vinho

arturgomes
http://artur-gomes.blogspot.com/

a flor da pele


Viagem interpoética


A lavra da palavra



Porrada llírica


esfinge

o amor não e apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome
é que a pele do teu nome
consome a flor da minha pele

cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge
clarisse/beatriz

assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nosso profanos segredos
se um dia falta coragem
a noite sobra do medo

na sombra da tatuagem
sinal enfim permanente
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente

o nome tem seus mistérios
que se esconde sob panos
o sol e claro quando não chove
o sal e bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve

o mar que vai e vem não tem volta
o amor e a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca e a porta
onde o poema não tem fim

artur gomes
http://juras-secretas.blogspot.com/





IMERSÃO

Imerso em águas
mares
reconsidero a permanência
na inconstância
do sal
sobre o corpo: imerso
em águas
doce
na decomposição
do corpo
ao estado
inicial

frágil em minha
permanência.

(Pedro Du Bois, inédito)

http://pedrodubois.blogspot.com/

http://nanquin.blogspot.com/


May interperta artur gomes num filme de Jiddu Saldanha



Jura Secreta 41

porque te amo
e amor não tem pele
nome ou sobrenome
não adianta chamar que ele não vem
quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos

mas não tenha medo
pode sangrar pode doer
e ferir fundo
mas é razãode estar no mundo
nem que seja por segundo
por um beijomesmo breve
porque te amo
no sol no sal no mar na neve

Artur Gomes
http://youtube.com/fulinaima


Mário faustino



Jura Secreta 106

ontem sonhei com você noite inteira
teus seios pulsavam em mim
não sei quando então começou
mas sei quando então foi assim

quanto mais pensava dormindo
sabendo meu ser acordado
fizemos amo dois alados
na cama imortal do jardim
os anjos do inferno rezavam
num gozo de nunca ter fim

arturgomes
http://juras-secretas.blogspot.com/



VeraCidade

por quê trancar as portas
tentar proibir as entradas
se já habito os teus cinco sentidos
e as janelas estão escancaradas?

um beija-flor risca no espaço
algumas letras de um alfabeto grego
signo de comunicação indecifrável
eu tenho fome de terra
e esse asfalto sob a sola dos meus pés
agulha nos meus dedos

quando piso na Augusta
o poema dá um tapa na cara da Paulista

flutuar na zona do perigo
entre o real e o imaginário

João Guimarães Rosa Caio Prado
Martins Fontes um bacanal de ruas tortas

eu não sou flor que se cheire
nem mofo de língua morta
o correto deixei na Cacomanga
matagal onde nasci
com os seus dentes de concreto
São Paulo é quem me devora
e selvagem devolvo a dentada
na carne da rua Aurora

Artur Gomes
http://artur-gomes.blogspot.com/

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sobre pontes que voam

Vagu
ei s
obre águ
as
per
didas,

e des
cobri
que
já tinh
am s
ido

as p
artes
que
sem
pre
bus
que
i

qu
ando
ando
busc
ando
o in
teiro

desc
ubro

o quan
to me
frag
men
tei
.
.
.

Mauro Veras.

Este poema consta do meu livro “bocadotempo”, de 2001, que será relançado em breve, com algumas atualizações. Ao reler os textos, tive vontade de dividi-los ... espero que gostem!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

do silêncio dos poetas

arturgomes - http://collagensfulinaimicas.blogspot.com/








o poema
recolhe-se
a escuridão
das frestas
enquanto
palavras perambulam
pela cerâmica fria
despedaçam-se
contra a louça suja
acumulada na pia
nem Beethoven
e sua 7ª. sinfonia
nem a eternidade
e sua
falsa homilia
apenas palavras
e silêncio
velas sem ventania
entregues ao sabor
da calmaria
palavras sem morada ou teto
sem significado abstrato
ou concreto
traídas no horto
sedentas de rumo
saudosas de porto
em busca de um poema
seja qual for a métrica
ou o tema
não precisa
ser elegia ou soneto
eu juro
eu prometo
pode ser
em verso livre
como a poesia que vive
na mansão e na rua
pode falar do sol
pode falar da lua
da minha dor
ou da tua
não precisa
ser poema chique
quero apenas
que chegue e fique

Fernando Freire
Samambaia, 05.09.2010




Canção Amiga

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
Todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

Drummond
Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.

Hilda Hilst

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

jura secreta in saquarema



meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento

o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia

arturgomes
http://musadaminhacannon.blogspot.com

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

fulinaimagem

vestígios do homem no planeta


Fulinaimagem


1

por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e a minha língua fosse
só furor dos canibais

e essa lua mansa fosse faca
a afiar os versos que inda não fiz
e as brigas dde amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto que a argamassa do abstrato

por enquanto
vou te amar assim adirando o teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos

arturgomes
http://musadaminhacannon.blogspot.com/



Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.


O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...


Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.


Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


cecília meireles

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A poética de mais e menos

direto do JB ON LIne

Se posto ao lado da tendência mais comum na recente poesia brasileira, zero ponto zero, de Igor Fagundes, sobressairá porque desfaz a falha polarização que segrega lirismo e cerebralismo (como se um poema lírico fosse elaborado nos pés); se posto ao lado da tradição dos poetas maiores, no Brasil e no Ocidente, ele achará um ambiente cativo porque colhe, com engenho e emoção, o que é mais alardeado em nosso tempo para desmerecer o objeto do alarde, fazendose dentro e fora da época; se posto isolado, o percurso até aqui efetuado pela obra do autor dotao de luz candente, porque é imensa a qualidade que distingue este livro dos três anteriores (os quais já apresentavam pontos plausíveis).

Um fator a dar maior solidez a zero ponto zero é a exibição de um poeta senhor de sua voz, apesar das múltiplas falas.

Confluindo o rigor da técnica com a ausência de maiúsculas, a erudição com temas corriqueiros, Igor Fagundes é tradicional sem ser tradicionalista; é moderno sem ser modernista (já nas epígrafes, assinadas por Heráclito e Paulo Henriques Britto). Trata-se de um poeta a manifestar em seu livro vigorosa captação crítica da realidade numa forma de escrita originalíssima.

O livro realiza, do início ao fim, um expressivo exercício irônico, porque nele tudo obedece a uma rigorosa disposição matemática: “ok, você venceu: há sim uma ordem / intrínseca ao correr, vagar das páginas”, diz “plano cartesiano”.

A maioria dos 65 textos é numerada de -31 a +31, tendo como eixo o “ponto zero”, o que subverte a numeração convencional.

O primeiro e o último texto evidenciam a unidade circular da obra, visto serem identificados com o símbolo do infinito (apondo-se ao primeiro o sinal negativo e ao primeiro, o p o s i t ivo ) .

Apesar do corpo numérico, a razão de ser do livro é denunciar e rejeitar a enganosa e danosa algebrização do viver, seja no âmbito específico do livro –

“de um livro quase todo em formas fixas
espera-se o equilíbrio, a simetria
e como se negasse a própria sina
aponta para o oposto dessa trilha”

– no do sujeito –

“calculados de acertos
meus pecados:
erro-me assim
tão exato”

– e no da existência, em sentido mais amplo –

“e a vida morre quando se dá conta
em matemática, tão certa, falha”.

Ao lado da ironia (aqui entendida em seu sentido original, “questionamento”), destacase uma atividade metalinguística que por toda a extensão do livro reflete acerca de sua natureza, sem nunca cair na gratuidade teórica.

Na seção “positiva” da peça (em que os textos recebem sinal de mais), os poemas-algarismos de zero a nove têm como tema o próprio número que os indica. E um aspecto da grandeza de zero ponto zero (ao lado de sua aguda cosmovisão) é a extrema coesão de todos os seus fatores em todas as suas partes; dessa forma, estes poemas não apenas falam sobre os números intituladores.

Cria-se com eles um pano de fundo para que o já dito torne-se inédito, como nesta belíssima passagem de

“dois”:

“não à preguiça de pensar dicotomias
como se tudo fosse antônimo e simplista
(...) sim ao limite em que começa e não termina
a comunhão das coisas, gentes, como rimas
sim ao casal, se o amor dos pares chega ao ímpar
ao singular plural e ao filho que culmina
sim ao que é não, se a partir dele, a vida afirma-se
e em cada enjambement a morte em verso adia-se”.

Essa poética impactante, que se poderia classificar como “de peso”, quebra sucessivamente qualquer aparência de maniqueísmo ou de monotonia. Mas entre as investidas de envergadura teórica, presentifica a leveza de um amor adolescente (o que se soma à negação da vida em aritmético regresso) no texto “romântico”, termo de baixo calão para a poesia contemporânea:

“curta seu love, tire uma casquinha
amar é sair junto, ao cine e após
tomar um ice cream numa pracinha
e nele derreterse, ao sol, e a sós”.

Quarta-feira, 25 de Agosto de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

além da janela

sobre o guarda noturno
que vigia minha
rua
sobre o traficante
que vende na mesma
rua
sobre o mendingo
ruminando uma miséria
que é tão sua
três estrelas brilham
esculpem silêncios
num céu que sussurra nos tímpanos da
eternidade
além da janela
de meu quarto
guardas noturnos
traficantes
e mendingos
amam e deixam de amar
vivem e morrem
odeiam e deixam de odiar
assim como o casal
que se beija ao meu lado
ou
como o garçon de olhar cansado
que me traz a cerveja
enquanto a vida
extirpa o coração
dos sonhos
nos altares da
realidade
e nos lábios da mocidade
no olhar dos velhos
que esperam
deuses natimortos
ofertam-nos preces
de morte reciclada

Fernando Freire
Gama, - DF -18.08.2010



Riverdies
21 de agosto – Garage – Praça da Bandeira - Rio


Fulinaimagem



Fulinaimagem

1

por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e a minha língua fosse
só furor dos canibais

e essa lua mansa fosse faca
a afiar os versos que inda não fiz
e as brigas dde amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto que a argamassa do abstrato

por enquanto
vou te amar assim adirando o teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos


onde teus pés bailarina dançam cato os vestígios do tempo onde teus olhos bailarina olham um gato passeia no teu colo e na vidraça o giz derrama poesia escritas com punhos de ontem em tua cidade de serras onde teus braços bailarina sustentam tuas mãos que colhem uvas coloco águas de chuva para que teus vinhedos não cessem estejam sempre em meus caminhos e deles brotem da flor o fruto sagrado e os teus segredos guardados entre os teus lábios de vinho

2

o que trago embaixo as solas dos sapatos
é fato. bagana acesa sobra do cigarro
é sarro. dentro do carro
ainda ouço Jimmi Hendrix quando quero
dancei bolero sampleando rock and roll

pra colher lírios
há que se por o pé na lama
a seda pura foto-síntese do papel
tem flor de lótus
nos bordéis Copacabana
procuro um mix da guitarra de Santanna
com os espinhos da Rosa de Noel.

arturgomes
http://artur-gomes.blogspot.com/


É das uvas roxas que abocanho
em tua boca e em teu fruto exposto
que faço meu vinho, meu sangue,
que para ti como um rio corre,
minha paixão, muso do meu canto
vindo do fundo da terra,
basalto e magma, esperma
de fundas furnas e de grutas
e das fendas submersas
de onde atocaiado tu me espias,
para ti meu canto, um também roxo canto
uivando das entranhas, mãos, garganta
a me dizer: vida
a ser trazida
entre os dentes
atravessada
tal uma faca.

Olga Savary


entriDentes


olhei a cara do tempo
ela estava fechada
não me dizia nada

pensei as sagaraNAgens
que o tempo fazia comigo
peguei do tempo o umbigo
cortei na ponta da faca

e a tua cara de vaca
sangrei sem nenhum remorso
porque isso o tempo não tem

agora o tempo sorri
me mostra os dentes da boca
e a tua cara de louca
é a minha cara também


jura NÃO secreta

quero dizer que ainda arde
tua manhã em minha tarde
a tua noite no meu dia

tudo em nós que já foi feito
com prazer inda faria

quero dizer que ainda é cedo
ainda tenho um samba-enredo
tudo em nós é carnaval
é só vestir a fantasia

quero ser teu mestre/sala
e você porta/bandeira
quando chegar na quarta feira
a gente inventa outra fulia

unplugged


quero bota no seu Orkut
um negócio sem vergonha
um poema descarada

ta chegando fevereiro
e meu rio de janeiro
fica lindo e mascarado

quero botar no seu e-mail
um negócio por inteiro

que eu não sou zeca baleiro
pra ficar cantando a mama
que ainda tem medo do papa

meu negócio é só com a mina
que me trampa quando trapa
meu negócio é só a mina
que me canta ouvindo o rappa

arturgomes
http://artur-gomes.blogspot.com

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

vazio

onde era vôo de pássaros
(os pássaros estavam quietos).
Uma febre roía meus ouvidos:
voltei mais velha (exilada)
com um toque de infância entre meus dedos,
reserva de sal dentro dos olhos.

Olga Savary



a esperança me o-
briga a caminhar
em círculo em tor
-no do globo em tor-
no de mim mesmo em
torno de uma mesa
de jogo
até que o zodíaco
pára e a noite costura-
me a boca a
retrós preto/ mas
eu fico impresso
no olho do dia obsoleto
viagem em círculo
sem ida nem vinda
sem nenhuma avenida
adeus com a mão esquerda/ amanhã
recomeço
minha lida
entre um e outro
julho entre um e outro crepúsculo a
cidade que busco
como hei de encon-trá-la
ouço-lhe a
fala mas estou na
outra sala/ amanhã
sem endereço
recomeço
o meu começo

a esperança é um círculo
no zodía-co na ciranda na
roleta na rosa do
circo na roda do
moinho amanhã recomeço
meu caminho

E me pergunto:
em que lado do glo-
bo terá
cessado o
diálogo da ovelha
e do lobo ?

II

a esfera em torno
de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera
a nova espera
me ensina de novo
a esperança na esfera

a esfera em torno
de si mesma me ensina
a espera a espera
me ensina a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera
a nova espera me ensina
uma nova esperança
na esfera a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
a esperança a esperança
me ensina uma nova
espera a nova espera
me ensina uma nova
esperança na esfera

Dedé Muylaert

Meu mestre, senhor da poesia, to louco pra montar alguma loucura contigo.
espero que vc esteja bem e produzindo bastante. Vê se vc gosta:

1

Enquanto escrevo
o poema me renega
digo o que não devo
escrevo o que não traço
e ocasionalmente faço

A Linha do provável
ultrapasso .
Frequentemente
Às vezes, lasso
não escrevo nem faço
nem passo nem fico
identifico
e aí sou eu mesmo
de braços abertos
preso num abraço
como um escuro do cinema
perante o meu dilema:
pau no poema ou é só cena
poeminha diadema?

Dedé Muylaert

terça-feira, 20 de julho de 2010

rock blues poesia

Dia 6 agosto 21:00h – MPBar
Rua Afonso Coelho da Silva, 34 – Flamboyant
Campos dos Goytacazes – RJ
Luizz Ribeiro + Sérgio Máximo +
Clara Brito + Artur Gomes + Lolô




IndGesta

uma caneta pelo amor de deus
uma máquina de escrever
uma câmera por favor
quero um computador
nem que seja pós moderno

vamos fazer um filme
vamos criar um filho
deixa eu amar a lídia
que a mediocridade desta idade mídia
não coca cola mais
nem aqui nem no inferno

arturgomes/luizz ribeiro
canibália city
http://goytacity.blogspot.com/

Mania de Saúde Arte e Cultura
Nosso Jornal é Mensal mas nosso Blog é diário

Nos próximos dias 5, 6, e 7 às 21:00h no Teatro de Bolso, e no dia 8 às 20:00h, Sidney Navarro e Thiago Eugêgio, encontra-se no palco interpretando, respectivamente Helena Beatriz e Maria Eduarda, na comédia É A Mãe, vejam os vídeos promocionais no blog Mania de Saúde http://mania-de-saude.blogspot.com/ leia ainda Regulamento e Programação do Fórum Latino americano de Fotografia, realizado em São Paulo pelo Itau Cultural, e Regulamento do Prêmio Porto Seguro de Fotografia 2010, além de uma entrevista com Silvano Motta, Diretor de Eventos do Cine Teatro São João, integrante do Grupo de Teatro Nós na Rua, e responsável pelo Festival de Inverno de Cultura de São João da Barra.

AGENDA MPBAR:

QUARTA E QUINTA (21H) - LOLÔ (MPB)
SEXTA (21H) - LOLÔ E EROS (MPB E POP)
SÁBADO (21H) - MARIA FERNANDA E TICO FLORIANO (BOSSA NOVA)
DOMINGO (14H)- QUARTETO REGRA TRÊS (CHORO)

DIA 6/8, 21H,
BLUES, POESIA, HUMOR E AFINS
NA NOITE DO ENCRAVO E A ROSA.
COM LUIZZ RIBEIRO, ARTUR GOMES, SÉRGIO MÁXIMO E CLARA BRITO

NÃO PERCAM NOSSA I NOITE CAIPIRA!
DIA 20/08, 21H
. FORRÓ AO VIVO

MPBar – Rua Alonso Coelho da Silva, 34 - Flamboyant




poema da boca fehcada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

José Saramago
enviado por George Coutinho

sábado, 17 de julho de 2010

PÁTRIA A(R)MADA








só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando os eu destino

só me queira enfeitiçado
veloz macio felino
em pêlo nu depravado
em tua cama sol à pino

só me queira encapetado
profanando àqueles hinos
malandro moleque safado
depravando os teus meninos

só me queira desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino


Artur Gomes
In Couro Cru & Carne Viva - 1987
Prêmio Internacional de Poesia
Universidade de Laval – Quebec - Canadá
http://goytacity.blogspot.com/

segunda-feira, 28 de junho de 2010

cine video urbanidades





jura secreta 112

a faca entre
os teus dentes
na gengiva sangra
trafego em angra
pela ilha grande

e
os teus olhos
ainda estão na praia
arraia fêmea
prenhe pelo macho

re/leio olga

algas me roçando
as coxas
me lambendo acima
do umbigo
embaixo

Arturgomes
canibália city
http://goytacity.blogspot.com/
SampleAndo
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quinta-feira, 24 de junho de 2010

louvação




singela oração aos blogueiros desocupados

1

no dia 6 de agosto
cachorro que soy louco
com gosto
vou louvar o meu
senhor

2

salve-me
santíssimo salva/dor
da dor
do horror desta cidade
que um dia foi
dos goytacazes
mortos por urubus
da terra alheia

3

santíssimo
salva/dor
salve-me da santa ceia
salve-me
das virgens de pedra
das santas que não são fedras
as “padroeiras” do Brasil

4

salve-me
santíssimo salva/dor
da feracidade horrorosa
sal-ve-me
do encravo e da rosa
dos carnavais
no mês de abril

5

pro diabo
não sou santo
nem visto o corpo com manto
soy
couro cru & carne viva
soy
carne viva & couro cru
não tenho a língua
que medra
soy carNAvalha
na piedra
my sagrado y profano
aprendiz de los hermanos
canibais lá do xingu

6

não tenho amor pelas santas
meu sangue corre nas plantas
em minhas mãos
esmeril
mas tenho amor pelas putas
a prostituta que pariu

7

santíssimo
salva/dor
salve-me da dor
do desgosto
de desfraudar mês
agosto
bandeiras tropicanalhas
salve-me
das catequeses
dos evangélicos pastores
de amores
de sacristia
salve-me da hipocrisia
planalto central
céu azul

salve-me
deste país
e deste estado de surto
se é pra xingar
não me furto
na flor da pele não tem panos

salve-me
destes tiranos
dos campos
da américa do sul

arturgomes
http://pelegrafia.blogspot.com/
canibália city
http://goytacity.blogspot.com/




experimentações/interlinguagens

1

hoje em ti
amanheci
ana/brasília
mesmo
não sendo
mulher
ou filha
bem-te-quis
meu
bem-te-vi
ao levitar
em tuas asas
mergulhei mares
que em teus olhos
conheci

2

Xangô
é parte da pedra
Exu fagulha de ferro
Ogum espada de aço

faz do meu colo
teus braços

Oxossi carne da mata
Yemanjá água do mar
Yansã é fogo vento tempestade

Oxum é água doce
Oxalá em ti me trouxe
te canto como se fosse
um novo deus em liberdade

3

sou teu leão de fogo
todo jogo
que me propor eu topo

beber teu copo
comer da tua comida

encarnar de frente
a janela de entrada
e se for preciso
:
a porta de saída

4

moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como o beijo no teu corpo agora

desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta
sendo animal da mata atlântica
quântico amor ou meta física
tudo que em mim não há respostas

metáfora d´alquimim fugaz brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele pelas tuas costas

os bichos amam em comunhão na mata
como se fosse aquela hora exata
em que despes de mim o ser humano
e no corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo.

arturgomes
http://juras-secretas.blogspot.com/



o sem nome

não quero o silêncio
como arma
lira lero
de algum bolero
com letra
pra calar boca
água fria no fogo

quero o incêndio
a fogueira
sei o quanto me negas
o fruto proibido

mas oculto na noite
entro por porta dos fundos
e roubo
a maçã do pecado
enquanto dorme
e sonhas
com alices
no país das maravilhas


mergulho tuas ilhas
devasto teus porões
na sala
derrubo tua mobília
no quarto
devasso teus colchões

na cozinha
bebo do teu vinho
e como do teu pão
não tenho nome
sou o que te come
sem pedir perdão


a vingança do vampiro brasileiro

a rosa apodreceu
no jardim das oliveiras
o encravo
deu com a cara no muro
do palácio guanabara

a filha
tem duas caras
aos domingos reza pro santo
nas sextas
pro capataz
há muito tempo meu chapa
venderam a mãe pro diabo
pensando fosse capaz






para uma puta em taguatinga



ela me conta
que seu ex
não quer pagar pensão
e de como a vida
tem sido dura
com ela
ouço sua cantilena
de puta triste
enquanto o ar condicionado
ronrona um soneto desesperado
e sob seus cabelos
um reino de abandono
seduz-me os dedos
neste quarto de hotel barato
numa noite barata
de rimas escassas
vislumbro o corpo
que há pouco
acolheu
minha solidão
salve pequena puta triste
salve doce menina
do alto dos prédios
escárnio
e indiferença
te cobiçam
e nos outdoors
a realidade sorri para a puta
e para o poeta
e todos na cidade
esperam encontrar
um amor
e todos na cidade
buscam alguém
e nesta hora
todos estão voltando
para suas casinhas de boneca
para suas vidas de plástico


Fernando Freire
Gama, 25/06/2010

sábado, 19 de junho de 2010

A-mar-ia

Eu não quero os bibelôs de ontem
nem os olhares e os beijos enterrados
nas cartas deste armário
não quero as memórias estáticas em foto-porta-poeira

Quero a invenção de novos sentidos
percorrer papéis dis-grafados
Sem-escritos
Não busco a memória de um tempo perdido
não dormiria com Proust
nem mesmo amaria nostálgicos homens.

Doaria, sim, este corpo aos versos de M.A
e a poesia da mulher do ponto de ônibus.

beijaria os lábios de Hilst
amaria os amantes dos meus amantes.

Karol Penido
http://aquarelaemversos.blogspot.com/



AO VENTO

O vento passa a rir, torna a passar
Em gargalhadas ásperas de demente;
E esta minh’alma trágica e doente
Não sabe se há de rir, se há de chorar!

Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amor,
A tua voz tortura toda a gente!...

Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim!... O vento, chora!
Que eu bem conheço, amigo, esse fadário

Do nosso peito ser como um Calvário,
e a gente andar a rir p’la vida fora!!

Florbela Espanca



E acordamos cegos, mudos e incólumes antes do espanto
Alguns elefantes pisotearam teu jardim de verdes sonhos
E a águia foi fazer ninho no chapéu olvidado do avô
Porque as nossas tardes são assim ,ainda, quando esquecemos
O silêncio.

Lembra dos instantes onde a agonia era quase um balsamo?
E das feridas como troféus duma batalha tingida de crepúsculos?
Como era estranho não reconhecer os nossos pecados e rir
E a penitência era alguma fruta roubada na primavera de Maria

Desconhecemos a temporalidade e a métrica das horas
Segundos ou palavras, horas ou rimas e o teu olhar negando as distâncias
Quem de nós amarrou o corcel antes que as tormentas chegassem?
Poças de pestilentas larvas já não atraem as borboletas nem os lagartos suicidas
Pergunto-te de novo, quem de nós amarrou o corcel antes que as tormentas chegassem...

Flavio Pettinichi- 03- 06- 2010



DE UM LADO E OUTRO

Me fosse dada
a graça
de ser um outro,

aceitaria, quem sabe,
ser você,

você, de corpo e alma,
desde que você,
é claro,
me aceitasse

assim
tal qual eu sou.

Alcides Buss
http://www.alcidesbuss.com.br/




Artur, essa é pra vc, meu velho !
Abraços, Rogerio

Gomes & Gumes
ROGERIO SANTOS(para Artur Gomes)

o gume da brisa avisa
que Artur, bardo rei
sua poesia metralha
entre o calçado e a calçada
entre o mar e a muralha
da musa de tanga a cangalha
bala fala de navalha
dos entrefolhos, bocas
& beco das garrafas
suculentos poemas em pets
cruza Crusoé sete mares
moura pepita de pirita
onde quem cala naufraga
Artur é enxada
minhoca danada
é espada cravada
na fenda da palavra
(e ai de quem pedra furada)

Rogério Santos
Acabei de postar no meu blog

www.folhadecima.blogspot.com

value="http://www.youtube.com/v/J-rgKf4cG9g&hl=pt_BR&fs=1&">

Negra Tez




vestígios do homem no planeta: - fotos: artur gomes








Sou a palavra cacimba
Pra sede de todo mundo
E tenho assim minha alma:
Água limpa e céu no fundo

Já fui remo, fui enxada
E pedra de construção;
Trilho de estrada –de –ferro,
Lavoura, semente , grão
Já fui palavra canga,
Sou hoje a palavra basta.
E vou refugando a manga
Num atropelo de aspa

Meu canto é faca, punhal
Contra o feitor
Dizendo que minha carne
Não é de nenhum senhor

Sou o samba das escolas
Em todos os carnavais
Sou o samba das cidades
E lá dos confins rurais

Sou quicumbi e Moçambique
No compasso do tambor.
Sou o toque de batuque
Em casa gege-nagô

Sou a bombacha do santo
Sou o churrasco de Ogum
Entre os filhos dessa terra
Naturalmente sou um

Sou o trabalho e a luta
Suor e sangue de quem
Nas entranhas dessa terra
Nutre raízes também!!!

dedé muylaert




DUAS FACES

O amor tem duas facas
uma corta outra costura.
O amor tem duas balas
uma mata outra madura.

O amor tem dois olhares
um de calma outro de ira.
O amor tem duas falas
uma cala outra é mentira.

O amor tem duas condutas
uma puta outra santa.
O amor tem duas vozes
uma chora outra canta.

O amor é dois e sendo
trás em si contradições
Zeca Tocantins



dedos dados

a mão nessa garrafa
não tem lance de dados
mas tem
dedos de louça
sensíveis
dedos de fada

pensando Cecília Meireles
não sei se alegres
ou tristes

mas sei:
esses dedos existem

arturgomes
http://artur-gomes.blogspot.com/



canibália city 1

poema anti metafórico

maria da penha
olha o namorado
:
pega mata e come
:
e não consegue
matar a própria fome


arturgomes
brazilíricas

um tapa no branco
tragado no preto
como instante opus
ópio de pessoa
como fiapo de manga
entrelaçado nos dentes




DECISÃO


Rompi relações
com a burguesia.


Ele só paga
em dinheiro.


Eu só recebo
em poesia.

Zeca Tocantins


Do Livro Colhedor de Manhãs.




CONFISSÃO


Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém

Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios

Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...

Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

Mário Quintana