domingo, 7 de junho de 2009






Somos pessoas
estranhas

somos
pessoas estranhas
nem
sabemos
que sonhos
que somos


esses olhos
poucos
essas folhas
secas?


esqueçam
fiquem
calados


somos
estranhos
no entanto
esta noite
dormiremos
lado a lado




Peônias negras serenas

peônias negras
serenas
quase secas
pombos se aquecem
num resto
de sol


uma planta
luta para
romper a fenda


formigas dragam
uma abelha
ainda viva


o inverno furta
a flor a cor
da fruta


(gestos & acenos
de sombras
não consolam)


a tarde passa
arrasta e deixa
um rastro prata


Seu corpo é uma praia deserta

Seu corpo é uma praia deserta
onde uma música desperta
numa onda esperta e a deserda:
espumas a ferem como pétalas.


Desterra, em tradução infinita,
pérolas na orla do olhar,
ilha que ainda está por ser escrita.


América # 3


Os desertos respeitam o tempo.
Veja como meditam, as pedras.
As areias são discípulos discretos,
corroendo os ossos do mestre com insolência.
O clímax do artifício está no azul
– paisagem total sem pontos de fuga.
Uma ruga vira uma gravura.
Vire-a do avesso e tens um deserto.
Uma tela de Monet vista de perto, por trás
– mas sem cor, sem aguapés, sem antes.
Deixe que o coiote nos espreite,
deixe que se deite entre as pedras
que nunca nos perguntam nada,
deixe que os mapas se percam, se rasurem.
Perdemos o sentido de direção:
as estradas são todas.
Um cactus se distrai contando roadrunners.
Veja sua poeira cruzando o panorama.
Os ecos que soltamos não retornam.

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