quinta-feira, 4 de junho de 2009


Tendal


Entre a terra e o céu está o outono

- asa ferida, agrimensor do sono

no delírio da queda estende estrelas

para proteger quem regressa da vida.

Ponho sobre os plátamos os cansaços

inefáveis. Perdoa-me o medo de sofrer

busquei novos rios de regresso

à casa de nomes apenas ornados

para a grinalda com raiva e tempo.

O poeta abre no poema o outono

e mede com seu rosto o abandono

das coisas amadas. O silêncio ajudou

a desatar o crepúsculo junto

à árvore na dureza agressiva

das raízes. Aqui está o vestígio estranho

da cantiga movida dos ninhos e

das flores. Não passes o outono

sem uma dádiva, celeiro ogival,

desigualdado templo de portas

abertas. Aqui está o longo outono

de todo em tuas mãos.



Velhice


Não é voltar que entristece – é não poder

reter nas mãos o sol o chão a lembrança,

sondo turvadoramente os próprios passos,

o caminho de reaver a sombra

durante horas a fio os velhos

cinamomos que não vemos mais.

O meu anjo da guarda banido de ternura

mais do que diante da morte

confunde a hera e o musgo, colhe

as rosas do amor e do vento.

De repente, o vento faz-se humano.

As sombras são sandálias

Portadoras de amplidão estendida

para dentro do nome. A aldeia

guardou intactas as coisas tímidas,

desde ontem a infância existe

só para querer revê-la novamente.

E há de ser o limiar de cada um que nos ouça

sem disfarces, quando a noite chegar

como quem folheia um livro de figuras.

Não é a volta que entristece... É pertencer

às lembranças sem poder atapetar

o silêncio de quem volta.


Oscar Bertold

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