sexta-feira, 19 de junho de 2009

arte digital: fátima queiroz




Mataram a Poesia Pastor de Andrade Jura Que Não Foi ele




Um poema zil

ma
ma
a floresta
rala
as araras
raras
os papagaios
nada
quero descobrir a nova fala dentro das penas de um bem-te-vi
dentro
dentro as escamas de um peixe espada
no cio das onças tigres lontras javalis e leopardos
quero minha nova fala ma ma mata a dentro
mesmo quando urbano sempre urbano entro
em cada carne em cada pedra onde subo pau a pique
Nick
a pedra é rock
a pedra é toque
a pedra é barro duro
e triturada é pó
faz tempo muito tempo
que não ouço
joão Gilberto
e ando tão desafinado
que o dente lambe a fala
e escava a lavra nova
faz tempo muito tempo
que não falo ave palavra
ave profana
ave cio
que não vejo o arrepio
de um pássaro selvagem
logo pós o pós mergulho
em algum canto
do rio
essa selva estraçalhada
faz tempo muito tempo
que não vejo
em mim cidade
goytacazes
goyta city
que não vejo em alvoroço
alegria quando festa
quando farra fausto
sol de verão
poesia e primavera
tudo o que ja foi
já era
mesmo o hoje
uma quimera
uma espera
insana e falsa
de um presente
que não vem
de um futuro absinto
mas que saber o que sinto
nada sinto
sinto muito
quer dizer
eu muito minto
minto muito
tudo é pouco
e o buraco
quando esgoto
na urbanidade do que falo
com os dentes na ferida
aqui tem tudo
falta vida
e a poesia foi vendida
e o poema
foi pro ralo

Artur Gomes
http://goytacity.blogspot.com/



Você é o livro
que eu levaria para
uma ilha deserta.
Desperta, pernas, pétalas
páginas abertas.
Você, você, você
é aquela que eu queria comigo.


Quando a coisa fica preta
quando ficar arco-íris
eu te digo.
Um dia eu volto
sim, eu volto e vou ficar
tão perto
que você não vai saber ao certo
se sou eu ou sou outro
que interpreto.




Como se fosse verdade encantações,
poemas Como se Aquele ouvisse arrebatado
Teus cantares de louca, as cantigas da pena.
Como se a cada noite de ti se despedisse
Com colibris na boca. E candeias e frutos,
como se fosses amante E estivesses de luto,
e Ele, o Pai Te fizesse por isso adormecer...
(Como se apiedasse porque humana
És apenas poeira, E Ele o grande
Tecelão da tua morte: a teia).
Como se fosse vão te amar e por isso perfeito.
Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se.
E não é Ele, o Fazedor, o Artífice, o Cego
O Seguidor disso sem nome?
ISSO... O amor e sua fome.


PoÉtica

quando tenso
o poema penso
fio suspenso
no Ar
quando teso
o poema preso
peixe surpreso
no Mar


Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só so em ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida


ciclo lunar

todo mistério
que há no fundo
dos teus olhos
seja ele mais profundo
alga do mar
água de rios
salgada ou doce
vou mergulhar
como se peixe eu fosse
e flutuar
no fluxo dos teus cios

artur gomes
Drummundo

eu sou drummundo
e me confundo
na matéria
amorosa
posso estar
na fina flor
da juventude
ou na bela idade
de uma rima primorosa
e até na pele/pedra
quando me invoco
e me desbundo
baratino
e então provoco
umbarafundo
cabralino
e meto letra
no meu verso
estando prosa
e vou pro fundo
do mais fundo
o mais profundo
mineral
guimarães rosa


arturgomes

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