segunda-feira, 17 de maio de 2010

janela indiscreta em rio de cinzas


centro são paulo: foto - artur gomes








ALFORRIA- 13 de maio

Senzala tem nome gentil: periferia.
Correntes? Não! Agora eu uso bolsa-esmola.
Não sou escrava, tenho, até, cidadania...
Só falta emprego, casa, pão e boa escola.
Não sou mais negra. Hoje sou afrodescendente,
deram-me cotas para ascensão social.
E nas novelas? Já deixei de ser servente...
Semidesnuda, eu sou rainha: é carnaval!
A cada dia, a vida bate à nossa porta,
mostrando a força onipotente do racismo;
nosso sofrer, à pele clara, pouco importa...
Pra eles, tudo... Para nós, só eufemismo.
Dona Isabel, muito obrigada, não deu certo,
aqui vivemos, sem ser parte da nação.
Nosso amanhã, sem segurança... É tão incerto...
Diz, brancamente: não findou a escravidão!

- Patrícia Neme -




JORGE DA CAPADOCIA

Jorge sentou na praça
na cavalaria
eu estou feliz
porque eu também
sou da sua companhia


Eu estou vestido
com as roupas
e as armas de jorge
para que meu inimigos
tenham pés e não me alcancem
para que meus inimigos
tenham mãos e não me toquem
para que meus inimigos
tenham olhos e não me vejam
e nem mesmo pensamento
eles possam ter
para me fazerem mal


armas de fogo
meu corpo não alcançarão
facas e espadas se quebrem
sem o meu corpo tocar
cordas e correntes se arrebentem
sem o meu corpo amarrar
pois eu estou vestido
com as roupas e as armas de jorge


jorge é de capadócia
salve jorge, salve jorge
salve jorge, salve jorge
Jorge Ben Jor






que pensa que letra
que leia que linha
que linha que veia
que sangue de vinha
palavra que lava
que lavra sozinha
pulsando na lira
que mira que tinha
que rima que canta
que tanta que minha
palavra que alvo
que salvo da rinha


rodrigo mebs


DOS NOSSOS MALES

A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...

Mario Quintana
Janela indiscreta em rio de cinzas

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