sábado, 26 de setembro de 2009

palavras crespas
borbulham na mente
quando o sol se apaga

lembranças espessas
são guizo de serpente
quando a noite se propaga


Úrsula Avner


Nerudianas

Prefiro que não, amada.
Para que nada nos amarre
que nada nos una.

Nem a palavra que aromou tua boca,
nem o que não disseram as palavras.
Nem a festa de amor que não tivemos,
nem teus soluços perto da janela.

Amo o amor dos marinheiros
que beijam e se vão.
Deixam uma promessa.
Não voltam nunca mais.

Em cada porto uma mulher espera:
os marinheiros beijam e se vão.

Uma noite se deitam com a morte
no leito do mar.

(Pablo Neruda in Crepusculario)

Seria tua musa desde que
aprendêssemos a roçar
minha língua tua língua
envolvidas nesse mar.

Envolvidas nesse mar
suculentas nerudianas
mil histórias duas bocas
minha língua tua língua

alagadas tateando
aprendêssemos a roçar
enviesadas declarando.

Seria tua musa desde que
duas línguas um destino
soubessem conspirar.

Lou Vilela
http://nudezpoetica.blogspot.com/

quinta-feira, 24 de setembro de 2009



A campanha Loucos Somos Nós, além do recolhimento de doações(material de limpeza, higiene pessoal e roupas usadas), prevê ações com arte cultura e lazer voltadas para os pacientes do referido hospital, constituindo assim um projeto Social permanente da Associação de Arte e Cultura Esporte e Lazer Nação Goytacá.
As doações serão entregues diretamente ao Hospital em horários e dias que divulgaremos brevemente.

Overcoming Skate Vídeo

Família do Skate se junta a Nação Goytacá
e a ProBeach Vôllei na campanha Loucos Somos Nós
em prol do Hospital João Vianna. –

Dia 26 setembro setembro 2009
19:00 – Furdunço Etílico – Semana da Imprensa
20:00h – Lançamento da Campanha Loucos Somos Nós
22:00h - volta da banda Avyadores doBrazyl
+ Reubes Pess + Humor + Eixo Nacional + Rock
Blues Poesia + Graffiti & Outros Baratos Afins

Taberna D Tutty – Rua das Palmeiras, 13

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

declaração inteira

tenho dez almas:

uma de carne
onde me exponho aos instintos.

a segunda entrego ao zelador
par que o espanador a inflame.

a terceira
quarta
quinta
sexta
sétima
oitava
entrego-as à mulher amada
para seu domínio completo

a nona carrego comigo
para sustentar o que de solidão exala

a décima
o que sobra dessa solidão


celso borges

Poema obsceno

Façam a festa
cantem e dancem
que eu faço o poema duro
o poema-murro
sujo
como a miséria brasileira

Não se detenham:
façam a festa
Bethânia Maninho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos
façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)
Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais

Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
o poema
terá o destino dos que habitam
o lado escuro do país- e espreitam.

Ferreira Gullar
Mais sobre Ferreira Gullar em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferreira_Gullar



Máquina do Tempo

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,

assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco ou simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha,

a outro alguém, noturno e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:
"O que procuraste em ti ou fora de

teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,

olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,

essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo

se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste... vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.

”As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge

distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos

e tudo que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber

no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar,
na estranha ordem geométrica de tudo,

e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que todos
monumentos erguidos à verdade:

e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,

tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.

Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,

a esperança mais mínima — esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;

como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra face

que vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,

passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentes

em si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,

baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.

A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,

se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.

Carlos Drummond de Andrade



Gilda

Não ponha o nome de Gilda
na sua filha, coitada,
Se tem filha pra nascer
Ou filha pra batisar.
Minha mãe se chama Gilda,
Não se casou com meu pai.
Sempre lhe sobra desgraça,
Não tem tempo de escolher.
Também eu me chamo Gilda,
E, pra dizer a verdade
Sou pouco mais infeliz.
Sou menos do que mulher,
Sou uma mulher qualquer.
Ando à-toa pelo mundo.
Sem força pra me matar.
Minha filha é também Gilda,
Pro costume não perder
É casada com o espelho
E amigada com o José.
Qualquer dia Gilda foge
Ou se mata em Paquetá
Com José ou sem José.
Já comprei lenço de renda
Pra chorar com mais apuro
E aos jornais telefonei.
Se Gilda enfim não morrer,
Se Gilda tiver uma filha
Não põe o nome de Gilda,
Na menina, que não deixo.
Quem ganha o nome de Gilda
Vira Gilda sem querer.
Não ponha o nome de Gilda
No corpo de uma mulher.

Murilo Mendes



POEMA PARA O ÍNDIO XOKLENG

Se um índio xokleng
sub
jaz
no teu crime branco
limpo depois de lavar as mãos

Se a terra
de um índio xokleng
alimenta teu gado
que alimenta teu grito
de obediência ou morte

Se um índio xokleng
dorme sob a terra
que arrancaste debaixo de seus pés,
sob a mira de tua espingarda
dentro de teus belos olhos azuis

Se um índio xokleng
emudeceu entre castanhas,
bagas e conchas
de seus colares de festa
graças a tua força, armadilha, raça:
cala tua boca de vaidades
e lembra-te de tua raiva, ambição, crueldade

Veste a carapuça
e ensina teu filho
mais que a verdade camuflada
nos livros de história

Lindolf Bell

(enviado pela pesquisadora urda Kuegler, de Sc.
Em memória do grande poeta catarinense, existe em Timbó, sua cidade natal, o centro de memória Lindolf Bell, onde viveu e onde estão devidamente preservados móveis,objetos,livros, manuscritos ,etc.
A curadora é sua filha Rafaela Heting bell, filha da artista plástica ,a escutora Elke Hering Bell. Rafaela , que cresceu em meio à poesia paterna e à arte materna, galeria de arte de seu pai, é diretora do MAB(Museu de Arte de Blumenau). A galeria do poeta, que foi conhecido marchand chamou-se Açu-Açu.
AÇU - quer dizer "grande", "comprido". Açu-açu: muito grande. Os indígenas repetem a palavra, para dar a noção de muito, de grande, de muitos. Assim, pana-paná, muitas borboletas. Ati-ati: muitas gaivotas.



Terra de santa cruz

ao batizarem-te
deram-te o nome
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te
em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme

sal gado mar
de feses
bnatendo nas muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
só pode ser canalha
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de tiradentes

salve-lindo pendão
que balança
entre as pernas
abertas da paz
tua nobre sifilítica
herança
dos rendevouz
de impérios atrás

meu coração
é tão hipócrita
que não janta
e mais imbecil
que ainda canta:
ou
viram no Ipiranga
às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta.

fosse o brazil mulher das amazonas
caminhasse passo a passo
disputasse mano a mano
guardasse a fauna e a flora
da fome dos tropicanos
ouvisse o lamentos dos peixes
jandaias araras e tucanos
não estaríamos assim condicionados
aos restos do sub-humano

só desfraldando a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
desta terra tão servil:
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria mãe que nos pariu

bem no centro do universo
te mando um beijo ó amada
enquanto arranco uma espada
do meu peito varonil
espanto todas as estrelas
dos berços do eternamente
pra que acorde toda esta gente
deste vasto céu de anil
pois enquanto dorme o gigante
esplêndido sono profundo
não vê que do outro mundo
robôs te enrrabam ó mãe gentil

telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite
uma estrela
ainda brigava
contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hoje não vieste à minha porta
- foi um puta golpe!

o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal Quinta feira
na geléia geral brazileira
o céu de abril não é de anil
nem general é my brazil
minha ver/amarela esperança
portugal já vendeu para a frança
e o coração latino balança
entre o mar de dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul
o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal Sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que a muito índio dizia:

meu coração marçal tupã
sangra tupi & rock in roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná

o sonho rola no parque
o sangue ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank

ó baby a coisa por aqui
não mudou nada
embora sejam outras
siglas no emblema
espada continua a ser espada
poema continua a ser poema

Artur Gomes
Nação Gýtacá
http://goytacity.blogspot.com/



segunda-feira, 21 de setembro de 2009

LeminskiArte da palavra em cena
Artur Gomes e Mayara Pasquetti
De 5 a 10 outubro 2009
Congresso Brasileiro de Poesia
Bento Gonçalves - RS



CREDO

Creio na significação do espaço
desbravado em ondas
na consecução do plano inferior
da metamorfose entre o sim
e o não na aceitação dos fatos
na proibição do consumido
em dias alternados conforme dito
aos deuses no esquecimento
na marcação da pele em suaves
disputas introduzidas em pontos
de indignação e coragem
elevada ao silêncio da palavra
em desculpa e ausência
no amor ofertado e possuído
como entrega e estrada percorrida
na idealização do reflexo sobre
o espelho estraçalhado em imagens.

(Pedro Du Bois, inédito)
http://pedrodubois.blogspot.com
outros poemas:
http://valeemversos.blogspot.com/



poema para um olhar dalí

dentro do arame farpado
este poema deve ter entrado
para nunca mais sair

PÁTRIA(R)MADA

só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando o seu destino

e só me queira encapetado
profanando àqueles hinos
malandro, moleque, safado
depravando os seus meninos

só me queira enfeitiçado
veloz, macio, felino
em pêlo nu depravado
em sua cama sol a pino

e só me queira desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino

antLírica

eu não sou zen
muito menos zhô
nem tão pouco
zapa
nem ando na contra capa
do teu disquinho
digital

não alinho pela esquerda
nem à direita do fonema
vôo no centro/viagem
olho rasante/miragem
veia pulsante/poema

Lady Gumes African's Baby

meto meus dedos cínicos
no teu corpo em fossa
proclamando o que ainda possa
vir a ser surpresa
porque amor não tem essa
de cumer na mesa
é caçador e caça
mastigando na floresta
todo tesão que resta
desta pátria indefesa

ponho meus dedos cínicos
sobre tuas costas
vou lambendo bostas
destas botas NeoBurguesas
porque meu amor não tem essa
de vir a ser surpresa
é língua suja grossa visceral ilesa
pra lamber tudo que possa
vomitar na mesa
e me livrar da míngua
dessa língua portuguesa.


sousAndrática

leve
ave pena
leve
arara amazônica
breve sobrevoa
rara lâmpada
límpida
azul de zinco
impávida oceânica
cérebro vivo
ofusca
a serra wall street
cega
bela city desumana
anti passarada
morte
que me roa
ave pena
leve
sousândrade
que me voa



SampleAndo

o poema pode ser um beijo em tua boca
carne de maçã em maio
um tiro oculto sob o céu aberto
estrelas de neon em vênus
refletindo pregos no meu peito em cruz

na paulista consolação
na na água branca barra funda
metal de prata desta lua que me inunda
num beijo sujo como a estação da luz

nos vídeos/filmes de TV
eu quero um clipe nos teus seios quentes
uma cilada em tuas coxas japa
como uma flecha em tuas costas índia
ninja, gueixa
eu quero a rota teu país ou mapa
teu território devastar inteiro
como uma vela ao mar de fevereiro
molhar teu cio e me esquecer na lapa



transparências no papel a seda
grafismo em carne minha cor nos dedos
recortes visuais no olho vazados
como um cão em marte
fissura de espada em riste
aponto minha língua em cortes
a flama do meu sangue em chamas
imagens regrafando imagens
a sombra do objeto em prismas
o dedo no gatilho oculto
atiro
contra o tédio infame
pedaços do meu corpo em prumo
poemas refazendo em transe
retalhos de um tecido em partes
seguindo por segundo a trilha
na etérea construção da arte

veredas pois...

o vácuo na palavra
espaço entre o tempo e o oco
do tempo as letras
uma a uma não dizendo nada
poema inconcluso onde uso
a cardioGrafia das pedras
como espelho d’água
as paredes das palavras
as muralhas dos poemas
as cordilheiras das letras
a criação das coisasa que damos nome
anna katarina do itanhandu
a pele de sol na carne da lua
o sangue das estátuas
a escritura das veias
junto a isso leio os passos
da noite e as curvas do trem
na estação
da janela a montanha nos olhos
contraste entre o solar e os edifícios
escuto teu silêncio incauto
e ladro como um cão vencido
a lua me persegue em signos
na boca de um dragão noturno
a coisa que percebo é vasta
letreiros urbanizando íntimos
a pedra do meu sonho é gêmea
irmã dos teus segredos ínfimos

Artur Gomes
http://multiartecultura.blogspot.com





pária

somos poucos
cada vez menos

somos loucos
cada vez mais

somos além
dessa matéria óbvia
que nos faz dizer
— tá tudo bem.

celsoborges

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Overcoming Skate Vídeo

Família do Skate se junta a Nação Goytacá
e a ProBeach Vôllei na campanha Loucos Somos Nós
em prol do Hospital João Vianna. –

Dia 26 setembro setembro 2009
19:00 – Furdunço Etílico – Semana da Imprensa
20:00h – Lançamento da Campanha Loucos Somos Nós
22:00h - volta da banda Avyadores doBrazyl
+ Eixo Nacional + Rock Blues Poesia
+ Graffiti & Outros Baratos Afins

Taberna D Tutty – Rua das Palmeiras, 13

http://overcomingskateblog.blogspot.com
http://www.youtube.com/watch?v=geeo2Lnp8wM&feature=player_embedded

o delírio é a lira do poeta
se o poeta não delira
sua lira não profeta

arturgomes

Nação Goytacá
http://goytacity.blogspot.com

terça-feira, 15 de setembro de 2009

um dia
a gente ia ser homero
a obra nada menos que uma ilíada
depois
a barra pesando
dava pra ser aí um rimbaud
um ungaretti um fernando pessoa qualquer
um lorca um éluard um ginsberg
por fim
acabamos o pequeno poeta de província
que sempre fomos
por trás de tantas máscaras
que o tempo tratou como a flores

eu queria tanto
ser um poeta maldito
a massa sofrendo
enquanto eu profundo medito

eu queria tanto
ser um poeta social
rosto queimado
pelo hálito das multidões
em vez
olha eu aqui
pondo sal
nesta sopa rala
que mal vai dar para dois

o paulo leminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filha da puta
de fazer chover
em nosso piquenique

acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido

nunca quis ser
freguês distinto
pedindo isso e aquilo
vinho tinto
obrigado
hasta la vista
queria entrar
com os dois pés
no peito dos porteiros
dizendo pro espelho— cala a boca
e pro relógio
— abaixo os ponteiros

quando eu tiver setenta anos então
vai acabar esta adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência
vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência

um dia desses quero ser
um grande poeta inglês
do século passado
dizeró céu ó mar ó clã ó destino
lutar na índia em 1866
e sumir num naufrágio clandestino

todo bairro tem um louco
que o bairro o trata bem
só falta mais um pouco
para eu ser tratado também


vendi meus filhos
a uma família americana
eles tem carro eles tem grana
eles tem casa a grama é bacana
só assim eles podem voltar
e pegar um sol em Copacabana


bom dia poetas velhos
me deixem na boca
o gosto de versos
tão fortes que não farei
dia virá que vos saiba
tão bem que os cite
como quem tê-los
um tanto feitos também
acredite


entre a dívida externa
e a dúvida interna
meu coração comercial
alterna

quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não sustenta um olhar
que demora
diante do meu centro
este poema me olha

ali se Alice ali se visse
quando Alice viu e não disse
se ali Alice dissesse
quanta palavra veio
e não desce
ali bem ali
dentro da Alice
só Alice com Alice
ali se parece

Paulo Leminski





desagosto

noutro dia um cão raivoso
espumando versos pela boca,
disse sol à nuvem louca
e o inverno inverso, rigoroso,
fez-se ainda mais intenso!
punhal de gelo na carne pouca,
que racha, sangra e estanca
entre a pele e a roupa.

mas, o andarilho lindo e asqueroso,
como brilho de amor, imenso,
ainda trilha as ruas sujas
nas cidades do que eu penso.

rodrigo mebs
http://frutafarta.blogspot.com/

A LUZ DESPOSSUÍDA

A luz
as luzes
esperado encontro da visão
e o objeto visto
avistado
iluminado
no instante
em que a razão
cede ao impulso

retorno
como pedra bruta
na terra revolvida
do acariciar da luz
sobre o corpo

a luz do amanhecer
transporta ao início
em fotossíntese.

(Pedro Du Bois, A LUZ DESPOSSUÍDA)
http://pedrodubois.blogspot.com

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Loucos Somos Nós
Uma campanha da Nação Goytacá em prol
do Hospital João Vianna – breve mais detalhes.
Lançamento dia 26 setembro - 20:00h
Taberna D Tutty - Rua das Palmeiras, 13

Congresso Brasileiro de Poesia
De 5 a 10 Outubro 2009
Bento Gonçalves – Rio Grande do Sul
maiores informações: adebach@gmail.com

May interpeta Artur Gomes – filme de Jiddu Saldanha


Tão Pimenta Tão Petróleo =filme de Artur Gomes


Bolero Blue

beber desse conhac em tua boca
para matar a febre nas entranhas
entre/dentes
indecente é a forma que te como
bebo ou calo
e se não falo quando quero
na balada ou no bolero
não é por falta de desejo
é que a fome desse beijo
furta qualquer outra palavra presa
como caça indefesa
dentro da carne que não sai

arturgomes
nação goytacá – presidente
http://goytacity.blogspot.com/

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Amor amado

Entra amor
esta sala tem as tuas medidas
ninguém mais poderia
nunca ocupá-la
Teu nome está escrito
nas invisíveis paredes
que retém o ardente fogo
que emana das letras
do nome que eu semento
e cultivo
em minha alma: O teu nome
Entra e sai livremente
como se jamais portas
fossem inventadas
Quero ser para ti um templo
sem limites
sem regras
que não sejam as tuas próprias
Entra
e se queres
profana-me
pois tu és aqui
o único Deus.

Concha Rousia

NADA

é o que
parece
neste

RIO

que me
apetece


Jaciara

SOBRE UVAS


Esbagaço a uva
esmago o grão
devolvo a casca ao solo.

Agradeço o sumo
e me despeço
em cálices de adivinhações.

Deixo amadurecer o grão.
Fermentado. Ensolarado
adocica o sentido
contraditório da urgência.

Esbagaço o corpo e dedico
o tempo a retirar
o espaço entre os grãos.

Pedro Du Bois, inédito

http://pedrodubois.blogspot.com/
outros poemas:
http://valeemversos.blogspot.com/