segunda-feira, 21 de setembro de 2009

LeminskiArte da palavra em cena
Artur Gomes e Mayara Pasquetti
De 5 a 10 outubro 2009
Congresso Brasileiro de Poesia
Bento Gonçalves - RS



CREDO

Creio na significação do espaço
desbravado em ondas
na consecução do plano inferior
da metamorfose entre o sim
e o não na aceitação dos fatos
na proibição do consumido
em dias alternados conforme dito
aos deuses no esquecimento
na marcação da pele em suaves
disputas introduzidas em pontos
de indignação e coragem
elevada ao silêncio da palavra
em desculpa e ausência
no amor ofertado e possuído
como entrega e estrada percorrida
na idealização do reflexo sobre
o espelho estraçalhado em imagens.

(Pedro Du Bois, inédito)
http://pedrodubois.blogspot.com
outros poemas:
http://valeemversos.blogspot.com/



poema para um olhar dalí

dentro do arame farpado
este poema deve ter entrado
para nunca mais sair

PÁTRIA(R)MADA

só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando o seu destino

e só me queira encapetado
profanando àqueles hinos
malandro, moleque, safado
depravando os seus meninos

só me queira enfeitiçado
veloz, macio, felino
em pêlo nu depravado
em sua cama sol a pino

e só me queira desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino

antLírica

eu não sou zen
muito menos zhô
nem tão pouco
zapa
nem ando na contra capa
do teu disquinho
digital

não alinho pela esquerda
nem à direita do fonema
vôo no centro/viagem
olho rasante/miragem
veia pulsante/poema

Lady Gumes African's Baby

meto meus dedos cínicos
no teu corpo em fossa
proclamando o que ainda possa
vir a ser surpresa
porque amor não tem essa
de cumer na mesa
é caçador e caça
mastigando na floresta
todo tesão que resta
desta pátria indefesa

ponho meus dedos cínicos
sobre tuas costas
vou lambendo bostas
destas botas NeoBurguesas
porque meu amor não tem essa
de vir a ser surpresa
é língua suja grossa visceral ilesa
pra lamber tudo que possa
vomitar na mesa
e me livrar da míngua
dessa língua portuguesa.


sousAndrática

leve
ave pena
leve
arara amazônica
breve sobrevoa
rara lâmpada
límpida
azul de zinco
impávida oceânica
cérebro vivo
ofusca
a serra wall street
cega
bela city desumana
anti passarada
morte
que me roa
ave pena
leve
sousândrade
que me voa



SampleAndo

o poema pode ser um beijo em tua boca
carne de maçã em maio
um tiro oculto sob o céu aberto
estrelas de neon em vênus
refletindo pregos no meu peito em cruz

na paulista consolação
na na água branca barra funda
metal de prata desta lua que me inunda
num beijo sujo como a estação da luz

nos vídeos/filmes de TV
eu quero um clipe nos teus seios quentes
uma cilada em tuas coxas japa
como uma flecha em tuas costas índia
ninja, gueixa
eu quero a rota teu país ou mapa
teu território devastar inteiro
como uma vela ao mar de fevereiro
molhar teu cio e me esquecer na lapa



transparências no papel a seda
grafismo em carne minha cor nos dedos
recortes visuais no olho vazados
como um cão em marte
fissura de espada em riste
aponto minha língua em cortes
a flama do meu sangue em chamas
imagens regrafando imagens
a sombra do objeto em prismas
o dedo no gatilho oculto
atiro
contra o tédio infame
pedaços do meu corpo em prumo
poemas refazendo em transe
retalhos de um tecido em partes
seguindo por segundo a trilha
na etérea construção da arte

veredas pois...

o vácuo na palavra
espaço entre o tempo e o oco
do tempo as letras
uma a uma não dizendo nada
poema inconcluso onde uso
a cardioGrafia das pedras
como espelho d’água
as paredes das palavras
as muralhas dos poemas
as cordilheiras das letras
a criação das coisasa que damos nome
anna katarina do itanhandu
a pele de sol na carne da lua
o sangue das estátuas
a escritura das veias
junto a isso leio os passos
da noite e as curvas do trem
na estação
da janela a montanha nos olhos
contraste entre o solar e os edifícios
escuto teu silêncio incauto
e ladro como um cão vencido
a lua me persegue em signos
na boca de um dragão noturno
a coisa que percebo é vasta
letreiros urbanizando íntimos
a pedra do meu sonho é gêmea
irmã dos teus segredos ínfimos

Artur Gomes
http://multiartecultura.blogspot.com





pária

somos poucos
cada vez menos

somos loucos
cada vez mais

somos além
dessa matéria óbvia
que nos faz dizer
— tá tudo bem.

celsoborges

Um comentário:

  1. Meu caro Artur, mais uma vez não irei à Bento durante a Poesia. Coisas da vida, ou da família. Mas em Bento, além do Barca, e da Semana, tem o poeta das pedras (basalto): João Bez Batti. Imperdível como pessoa, como escultor e como artista. Abraços, Pedro

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