quarta-feira, 17 de agosto de 2011

METRÓPOLE



somos viajantes do tempo gravado
nas esquinas de nossas avenidas
indiferentes ao concreto armado
nos lábios trêmulos dos homicidas

passamos simplesmente do passado
ao presente ignorando as feridas
abertas por um futuro exumado
da esperança tardia dos suicidas

a vida não é a vítima ou o bandido
nas garras da metrópole, vai além
do que existe entre o gatilho e o estampido

e sabe muito bem o que convém
ao destino do assassino perdido
na solidão de ser no outro, ninguém


RÉQUIEM


ver o pôr do sol
ver pela última vez
o que me resta de pôr do sol

me porei aos seus pés
- doce fim de tarde -
e me desnudarei

(as botas!, não  esqueça das botas...
cochicha-me o meu avô  falecido)

a brisa do fim do dia
a noite de olhares infinitos
o hálito quente da madrugada

desta vez não dormirei
silenciarei pirilampos
com brilhos do meu suor

amanhã estarei de pé
rígido feito um poste
a serviço dos cães

esquecerei luminosidades
para contemplar
os riscos dos mísseis no céu

e estenderei os braços
amparando a todos
na cegueira fértil

de um macaco que lança
ossos no ar
para recolher estrelas



Marco Aurélio Cremasco nasceu em Guaraci, Paraná. Professor na Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, tem dois livros técnicos publicados: Fundamentos de transferência de massa (Editora da Unicamp, Campinas, 1998) e Vale a pena estudar engenharia química (Blucher, São Paulo, 2005). Foi um dos fundadores e coeditores da Babel, Revista de Poesia, Tradução e Crítica. Publicou os livros de poemas Vampisales (Editora da Universidade Estadual de Maringá, 1984), Viola Caipira (edição do autor, Campinas, 1995), A Criação (Cone Sul, São Paulo, 1997; Prêmio Xerox e Revista Livro Aberto de Literatura), fromIndiana (edição do autor, West Lafayette, EUA, 2000). Possui o romance Santo Reis da Luz Divina (2004; Prêmio Sesc de Literatura e finalista do Prêmio Jabuti de 2005), o livro de contos Histórias Prováveis (2007) editados pela Record (Rio de Janeiro) e a novela Oco do Mundo (Sereia Ca(n)tadora, Santos, 2011). Em 2010 foi contemplado com a Bolsa Funarte de Criação Literária para a escrita do romance Evangelho do Guayrá.

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