sexta-feira, 31 de agosto de 2018

com os dentes cravados na memória


Com Os Dentes Cravados Na Memória - 
O Dia Que Meu Cavalo Resolveu Pintar AS Cores da Bandeira

Vania Cruz minha querida amiga lembra-me da performance que fiz, no Palácio da Cultura em Campos dos Goytacazes para anunciar a exposição de Genilson Genilson Soares com os seus - pênis voadores - que já tinham causado no Ginásio de Esportes da então ETFC. No auditório do PC acontecia um Curso de Controle Mental, me enrolei na Bandeira do Brasil nu, e esfrangalhei a Bandeira, literalmente soltando o verbo com poemas do livro Couro Cru e Carne Viva que tinha acabado de lançar em 1987.
terra de santa cruz
ao batizarem-te
deram-te o nome:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme
salgado mar de fezes
batendo na muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
só pode ser canalha
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de Tiradentes
salve lindo pendão que balança
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de impérios atrás
meu coração
é tão hipócrita que não janta
e mais imbecil que ainda canta:
ou
viram no Ipiranga às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta
só desfraldando a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão servil
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria mãe que nos pariu
bem no centro do universo
te mando um beijo ó amada
enquanto arranco uma espada
do meu peito varonil
espanto todas estrelas
dos berços do eternamente
pra que acorde toda essa gente
deste vasto céu de anil
pois enquanto dorme o gigante
esplêndido sono profundo
não vê que do outro mundo
robôs te enrabam ó mãe gentil
telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hoje não vieste à minha porta
o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal quarta feira
na geléia geral brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é my Brazyl
minha verde/amarela esperança
Portugal já vendeu para França
e coração latino balança
entre o mar do dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul
o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que há muito índio dizia:
meu coração Marçal Tupã
sangra tupy & rock and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná
o sangue rola no parque
o sonho ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
e muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank
ó baby a coisa por aqui não mudou nada
embora sejam outras siglas no emblema
espada continua a ser espada
poema continua a ser poema
Artur Gomes 
Do livro Couro Cru & Carne Viva – 1987

Nenhum comentário:

Postar um comentário