segunda-feira, 11 de abril de 2016

cogito


há muito tempo que este país não tá pra peixe
naquela tarde era fim de ano. cantávamos Caetano em Teresina a cajuína era pouca. raspamos o tacho e não era mole a rapa dura. Olga me abriu o Magma um Mar de larvas de fogo. em cada palavra/poema de sete letras. em cada poema sete cabeças no jogo. levamos flores ao túmulo do poeta da tropicália. Medeiros não se conteve chorou a dor dos aflitos. e para aliviar o seu pranto berrou o poema: 

COGITO

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.

Torquato Neto

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