sábado, 19 de junho de 2010

Negra Tez




vestígios do homem no planeta: - fotos: artur gomes








Sou a palavra cacimba
Pra sede de todo mundo
E tenho assim minha alma:
Água limpa e céu no fundo

Já fui remo, fui enxada
E pedra de construção;
Trilho de estrada –de –ferro,
Lavoura, semente , grão
Já fui palavra canga,
Sou hoje a palavra basta.
E vou refugando a manga
Num atropelo de aspa

Meu canto é faca, punhal
Contra o feitor
Dizendo que minha carne
Não é de nenhum senhor

Sou o samba das escolas
Em todos os carnavais
Sou o samba das cidades
E lá dos confins rurais

Sou quicumbi e Moçambique
No compasso do tambor.
Sou o toque de batuque
Em casa gege-nagô

Sou a bombacha do santo
Sou o churrasco de Ogum
Entre os filhos dessa terra
Naturalmente sou um

Sou o trabalho e a luta
Suor e sangue de quem
Nas entranhas dessa terra
Nutre raízes também!!!

dedé muylaert




DUAS FACES

O amor tem duas facas
uma corta outra costura.
O amor tem duas balas
uma mata outra madura.

O amor tem dois olhares
um de calma outro de ira.
O amor tem duas falas
uma cala outra é mentira.

O amor tem duas condutas
uma puta outra santa.
O amor tem duas vozes
uma chora outra canta.

O amor é dois e sendo
trás em si contradições
Zeca Tocantins



dedos dados

a mão nessa garrafa
não tem lance de dados
mas tem
dedos de louça
sensíveis
dedos de fada

pensando Cecília Meireles
não sei se alegres
ou tristes

mas sei:
esses dedos existem

arturgomes
http://artur-gomes.blogspot.com/



canibália city 1

poema anti metafórico

maria da penha
olha o namorado
:
pega mata e come
:
e não consegue
matar a própria fome


arturgomes
brazilíricas

um tapa no branco
tragado no preto
como instante opus
ópio de pessoa
como fiapo de manga
entrelaçado nos dentes




DECISÃO


Rompi relações
com a burguesia.


Ele só paga
em dinheiro.


Eu só recebo
em poesia.

Zeca Tocantins


Do Livro Colhedor de Manhãs.




CONFISSÃO


Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém

Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios

Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...

Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

Mário Quintana

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