sexta-feira, 16 de abril de 2010
Alimentação Básica
acordei com um sopro
que pensei poema
era tão claro, tão definitivo
nunca poderia esquecê-lo
não o escrevi de pronto
escovar os dentes cuidar do gato
ouvir as notícias
quando vi já não estava
foi-se em forma e sentido
e me deixou deserta
eu, que tanto peço água
Lição
Eu ria dos solitários.
Quem tem a si já tem alguém.
Mas ontem não escrevi
nem anteontem e há tempos.
Reluto em dizer: não escrevo.
E coragem: não escrevo mais.
Isso é solidão.
E é mais que solidão
é ser nenhum
nenhuma
nada
ninguém.
Providencial
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Fernando Pessoa
No auge da tristeza arrebatada
um soneto: queixa e desabafo.
Qual queixa
qual desabafo
qual soneto
Eis que a providência me levanta:
não queiras combater o teu contrário.
Segue o rumo da existência
como a água procura o estuário.
Ama teus belos amigos
que os tens sempre, novos e antigos
e saibas a cada novo dia:
a verdade não anda só contigo.
Helena Ortiz
Beatriz a Faustino
pudesse eu divagar pelos teus poros
bosque do teu reino em teus pêlos
mergulhar contigo o mar da fonte
atravessar da carne a pele a ponte
penetrar no orgasmo dos teus selos.
pudesse eu cavalgar por tuas crinas
no dorso cavalar onde deflora
deixando assim então de ser menina
e me tornar mulher por toda sina
no inferno céu da tua hora
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