este corpo se conquista com a arte e o engenho dos bárbaros
seu movimento risca o espaço
preenchendo-o com delicadas linhas de força
dilata o olhar na jornada incerta
este corpo dança
destrói leis da física
perfura o ar-livre
às vezes carne desgovernada
às vezes traço matemático
este corpo não mais se sente
fratura-se, rompe-se, perde-se
é deixado para trás
terra-de-ninguém
caído no rastro de outro corpo
palco incompartilhável
este corpo sua
multiplica-se atroz
depois de desposar, desafiar, seduzir
renasce – múltiplo & contraditório –
supernovo explodindo em luzes
sempre longe do universo
ao rés-do-chão
bem mais próximo
mais tóxico
agora não há mais espaço
nem ar-livre
nem dança
só corpo
e tudo nele navega – elétrico
tudo nele anela – novelo
espelho de fora
diferente de si e diferente
múltiplo & contraditório
fora de tudo
como um breve sonho da matéria
involuntariamente móvel
posto pertencer sempre ao azul-metálico
& atravessar desertos a seco
sandro ornellas
in Trabalhos do Corpo & Outros Poemas Físicos
Letra Capital – 2007
contato: ssornellas@gmail.com
http://simuladordevoo.blogspot.com/
trilhos urbanos
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