XVIII CONGRESSO BRASILEIRO
DE POESIA HOMENAGEIA
FERREIRA GULLAR
Pela primeira vez nos últimos quinze anos
o Congresso Brasileiro de Poesia
não é realizado na primeira semana
de outubro e sim, no final do mês.
A edição deste ano acontece de 25 a 29,
na cidade de Bento Gonçalves e
homenageará os 80 anos de Ferreira Gullar.
Leia mais aqui http://artur-gomes.blogspot.com/
Esfinge
As flores do bem-me-quer
gaivotas perseguem peixes
quando estão com fome
a musa da minha janela
depois da prova de física
desfolha Charles Baudelaire
tem um jardim imaginário
no quintal desta metáfora
e um mar de algaravias
dentro dos olhos dela
percebo a flor da infância
bem-me-quer em teu cabelos
peixes que não são nuvens
girassóis fosse miragens
na veia algas marítimas
e uma fração logarítima
ainda por resolver
arturgomes
http://pelegrafia.blogspot.com/
Palavras Diversas
Artur Gomes e Mayara Pasquetti estão completando 4 anos de parcerias no palco, estreaiaram em 2006 em Bento Gonçalves, com um recital em homenagem ao centenário do porta gaúcho Mário Quintana. Este ano lá mesmo na serra gaúcha na capital nacional do vinho, durante a programação do XIII Congresso Brasileiro de Poesia, eles estarão mais uma vez dialogando poeticamente com o recital Palavras Diversas, que além da poesia do prório Artur, a dupla faz uma viagem pela poesia de Arnaldo Antunes, Eliakin Rufino, Mário Faustino, Ferreirta Gullar e Torquato Neto.
Se for Poema Fogo do Desejo, neste vídeo filmado por Jiddu Saldanha, eles estão no Parque das Ruínas em Santa Teresa Rio de Janeiro fazendo o que mais gostam: falando peosia.
segue abaixo alguns dos poemas que fazem parte do repertório do Recital Diversas Palavras:
NÃO HÁ VAGAS
O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão. O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos. Como não cabem no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores está fechado: “não há vagas”
Só cabem no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço
O poema senhores, não fede nem cheira
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. uma parte de mim é multidão:outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte,l inguagem. Traduzir-se uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte -será arte?
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora, moça branca como a neve, me leve. Se acaso você não possa me carregar pela mão, menina branca de neve, me leve no coração. Se no coração não possa por acaso me levar, moça de sonho e de neve, me leve no seu lembrar. E se aí também não possa por tanta coisa que leve já viva em seu pensamento, menina branca de neve, me leve no esquecimento.
O mundo que venci deu-me um amor
O mundo que venci deu-me um amor,
Um troféu perigoso, este cavalo
Carregado de infantes couraçados.
O mundo que venci deu-me um amor
Alado galopando em céus irados,
Por cima de qualquer muro de credo,
Por cima de qualquer fosso de sexo.
O mundo que venci deu-me um amor
Amor feito de insulto e pranto e riso,
Amor que força as portas dos infernos,
Amor que galga o cume ao paraíso.
Amor que dorme e treme. Que desperta
E torna contra mim, e me devora
E me rumina em campos de vitória...
Mário Faustino(1930-1962)
ditados populares
sem essa de dizer que a pressa
é inimiga da perfeição
eu sou amigo da pressa
perfeição não me interessa
não me interessa não
o que é perfeito está morto
eu quero o falho o feio o torto
quero os pecados da alma
e as imperfeições do corpo
se a pressa é inimiga da perfeição
e é amiga da mudança
irmã da revolução
boca fechada não entra mosca
mas também não sai palavras
que cala consente quem sente fala
o silêncio pode ser uma kaula
é preciso estar atento
é preciso ter cuidado
uma coisa é ser silêncio
outra é ser silenciado
lei do silêncio não faz sentido
o mundo sem palavas sé quadrado
lei do silêncio não faz meu tipo
o meu estilo é ser articulado
Eliakin Rufino
Boa Vista - Roraima - RO
Um instante
Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei
à luz presente
sou apenas
um bicho
transparente
____________________
Aprendizado
Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta. _______________________________
ferreira gullar
Socorro alguma alma
mesmo que penada,
me empreste suas penas,
já não sinto amor nem dor,
já não sinto nada.
Socorro alguém me dê um coração,
que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa que se sinta
Tem tanto sentimento
deve ter algum que sirva...
As coisas têm peso,
massa, volume, tamanho,
tempo, forma, cor, posição, t
extura, dura-
ção, densidade, cheiro,
valor, consistência, pro-
fundidade, contorno,
temperatura, função, aparência,
preço, destino, idade, sentido.
As coisas não têm paz.
Iluminuras
Pensamento vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.
Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?
Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com o seu fermento;
pensamento dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei sementes
em cima do seu cimento. *
O amor. sem palavras.
Ou. A palavra amor, sem amor.
Sendo amor, ou. A palavra ou.
Sem substituir nem ser substituída por.
Si, a palavra si, sem ser designada
ou gnificada por.
O amor. Entre si e o que se. Chama amor,
como se. Amasse
(esse pedaço de papel escrito amor).
Somasse o amor ao nome amor,
onde ecoa.
O mar, onde some o mar onde soa.
A palavra amor, sem palavras.
arnaldo antunes
Marginália II
Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu pecado
Meu sonho desesperado
Meu bem guardado segredo
Minha aflição
Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu degredo
Pão seco de cada dia
Tropical melancolia
Negra solidão
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui, o Terceiro Mundo
Pede a bênção e vai dormir
Entre cascatas, palmeiras
Araçás e bananeiras
Ao canto da juriti
Aqui, meu pânico e glória
Aqui, meu laço e cadeia
Conheço bem minha história
Começa na lua cheia
E termina antes do fim
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Minha terra tem palmeiras
Onde sopra o vento forte
Da fome, do medo e muito
Principalmente da morte Olelê, lalá
A bomba explode lá fora
E agora, o que vou temer?
Oh, yes, nós temos banana
Até pra dar e vender Olelê, lalá
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Let's play that
quando eu nasciu
m anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinaro coro dos contentes
vai bicho desafinaro coro dos contentes
let's play that
dessde que eu saí de casa
triuxe a viagem na mão
cravada no meu umbigo
dentro fora assim comigo
minha prórpria condução
todo dia é dia dela
pode ser pode não ser
abro a porta ou a janela
todo dia é diaa D
há urubus no telhado
a carne seca é servida
um escorpião encravado
na sua própria ferida
não escapa
só escapo pela porta de saída
todo dia o mesmo dia
de amar-te a morte morrrer
todo dia mais um dia
menis dia dia D
torquato neto
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