quinta-feira, 23 de julho de 2009

Cris Dalana no Festival de Cardoso Moreira

Amigo-Abrigo

Os olhos não devem ser de carbono,
devem ser de vida explícita
e de experiência para trocar,
de, sorriso para dar
e da verdade pura
quando não se puder falar.

A boca deve dizer a frase favorita,
deve dizer palavras bonitas
ou feias em horas concorridas,
mas ditas com o jeito mais habilidoso
desse mundo ruidoso

O sentimento deve ser de pele transparente,
há de querer ser sempre gente,
sempre ser algo genial,
solto dentro de si, real
e rir um riso total.

As mãos devem ser capazes de acolher num abraço
que transpassa o concreto e chega no lugar mais abstrato
do corpo mais que humano,

E é bom que não haja engano
vou até te magoar com o meu jeito
ou ritmo de ser tudo pode acontecer,
mas pode crer:
eu sou rico,
eu tenho um amigo.

Sônia Macedo

HABITUAIS

A habitualidade
do engodo
consultado em oráculos
desprovidos
de verdades.

A insensatez da vida se opõe
em brados não ouvidos. O caco
de vidro
rasga
a pele.

O tema de amores
conduzidos ao êxtase da permanência.

Corpos habituados
ao engodo
dos resultados
anteriores.


Pedro Du Bois, inédito

outros poemas:
http://pedrodubois.blogspot.com/
http://valeemversos.blogspot.com/

EM LOUVOR À DIFERENÇA

Eu fico de boca aberta
do que você é capaz.

O palco é pouco
para pernas e braços
em alvoroço de paz.

Esse lado do corpo
que ave se faz,
me deixa a um passo
de louco albatroz.

Meus pés, porém,
enquanto os teus
passeiam em compassos
aéreos, se fixam no chão
quais raízes de ébano.

Que albatroz é este
– lamenta o poeta –
que faz das asas
tropeço e das plumas
penar, enquanto aves
outras, lépidas, flutuam?

Assim, sem ser você
o que sou, não sendo
eu o que és, me deixo
tomar pelo encanto
de ver teu lado de fora
tocar meu lado de dentro,
tal se fôssemos a mesma coisa.

Alcides Buss
http://www.alcidesbuss.com/



NA ESTAÇÃO

Com meus pedaços despedaçados,
entre o eu e o meu,
quero a força de vontade.
Mas,
escapa por entre meus preguiçosos delírios.
Sou a fera amansada pela distração,
sou a paciência do sorriso,
impaciência do desejo...
Enquanto penso, penso que faço.
De fato... faço, enquanto penso.
Vivendo do possível...
E, o quase impossível rondando.
Sou a que vive a espreitar o horizonte
com os olhos lacrimejando.
Tenho a forma da espera,
a esperar o ato.
Na estrada, cheia de obstáculos,
contorno meu tempo...afagando-me
com palavras otimistas.
Se sofro, quem não sofre?
Se peno, há de valer!
Destino ou acaso...
estarei na estação...
o trem há de passar.

JULENI ANDRADE

Versos Íntimos
Augusto dos Anjos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

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